“…Sem desprezar a nobreza do encontro dos pares Kátia Nascimento e André Soltau, Fio do silêncio promove o apagamento da assinatura tradicional esperada para um livro que reúne contos de dois escritores, num revés à contemporaneidade, que explicitamente tem convocado o retorno do autor — e o leitor da ficção contemporânea sabe disso, pois acompanha o escritor vivo nas redes sociais, nos encontros literários e nas oficinas de criação. Em seu lugar, a presença de signos não verbais — supostamente [também] o mar e o cavalo marinho — sela a sintonia do duo de artistas que deita sobre o vazio luminoso da página a expressão estetizada da linguagem na representação imaginária de fragmentos pinçados da realidade. Em primeiro plano reside o discurso que antes sente para somente depois significar. “Não aprendi a ser livre, mas a despertar no outro a liberdade que não tenho.” [do conto O desenho que saiu do papel].
Numa leitura circundada pela personagem Solidão, que renasce fantasmagórica em várias das narrativas, Fio do silêncio comporta histórias breves em que prevalece a sensação de um tempo passado, um tempo outro, na maioria das vezes distante, ou aquele que insiste em passar lento — na memória e nas localidades pouco conectadas com a ligeireza corrente nos centros urbanos atuais. São, na maioria, narrativas que reativam singularidades de um passado nada automatizado e inumano, embora comumente negligenciado pelo olhar. “Talvez não atinja o domínio das vertigens que vão e vêm lembrando que as coisas ainda estão fora do eixo.” [do conto A casa de reza]. “…
Camila Morgana Lourenço
Doutora em Teoria da Literatura (UFSC),
é autora da biografia Retrato Literário: Urda Alice Klueger
e o fazer literário e tem publicado experimentos ficcionais
em antologias resultantes de concursos.
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PRÉ-VENDA
Fio do silêncio – André Soltau e Kátia Nascimento
R$ 39,70 R$ 27,79
Ele gosta da tempestade se aproximando e de grandes ventanias que levam as folhas e pensamentos a rodopiar por aí. Basta, para ele, um véu de lua e ideias de sol para que um livro seja parido com as dores típicas de um escritor inquieto. Não há dúvidas de que André gosta de um silêncio e de instantes de solidão. São nesses momentos que ele sente o cheiro da liberdade. Seus últimos livros – Dobras (Crônicas) e Palavra d’água (contos) – estão equilibrando-se no fio que separa o silêncio do ruído cotidiano. O silêncio sempre chega com uma ousada e surpreendente palavra. André prefere as que vem ao avesso do dia para que a solidão não seja apenas companhia do escritor, mas assunto de seus textos.
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Kátia Nascimento
Ela gosta do mar calmo e do sol que reflete na água. Mas basta o vento de Iansã para que as águas fiquem revoltas e transformem sua aparente água de Oxum, num mexer constante de placas submersas fazendo imergir histórias que se misturam com sua realidade. O fio do silêncio que envolve cada uma delas, pode-se perceber nos livros: A vida mística de Eugênia (romance) e Rio das Pedras (contos). O fio ainda está solto. Se movimenta para a próxima história, no próximo conto. O silêncio permanece. É nele que o escritor acomoda o que foi exaustivamente observado.