(por Eugênio Vinci de Moraes)
Recentemente narrei-lhes os feitos da cadela Aika e dos elefantes on the road chineses. E do galo delinquente de Ivaiporã. Contava assim ter esgotado o bestiário no mês de junho, mas aí a Arara-Canindé de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, achou muito engraçado me botar cabreiro, subvertendo meus planos, e meter-se nesta crônica julina.
Mais sortuda que o galo do Paraná, a arara mato-grossense do sul não conheceu por dentro a cadeia verde-amarela. Pelo menos por enquanto. Saiba você, minha atenta leitora, meu distraído leitor, que a arguta araraúna resolveu visitar o terminal de ônibus Nova Bahia, da cidade do centro-oeste nacional, e, em segredo, fechar o registro de água daquele espaço público.
Esse hidroincidente, mistério dos mistérios, havia acontecido outras vezes e tornara-se um enigma para os pasmados servidores públicos locais. Lembre-se que a capital do Mato Grosso do Sul costuma içar suas temperaturas a picos de 30 graus e mais. Imagine o que significa topar com uma torneira seca nessa cidade.
Chamaram os agentes de trânsito da cidade para solucionarem o enigma. Certo, é um terminal de ônibus, mas desde quando falta d’água é problema de tráfego? Passou a ser, porém, pois foi um desses agentes quem flagrou a arara cancelando o fluxo hídrico. Com a glória de nosso tempo, o esmartefone, ele registrou a ação da finória Ara ararauna.
Muito se tem divergido sobre as razões da arara. O jornalista do G1 comprou a hipótese de que o bico da ave se guiou pela sede, ou seja, que o psitacídeo azul-amarelo torceu o registro pra saciar-se. Discordo. Pra mim, a engenhosa ave agiu objetivamente: cerrou a manopla da torneira para cortar o fluxo da água e sacanear os usuários e funcionários do terminal, impedindo-os de refrescarem-se. Não há mistério nessa história. Trata-se logicamente da lei de Talião. Mistérios são coisas do Oriente. Aqui, o bicho pega.
* A imagem que abre esta crônica foi extraída da página da editora Capivara, do livro “Martius” (https://editoracapivara.com.br/as-aves-brasileiras-sob-o-olhar-dos-pintores-viajantes/).
* O texto acolheu as preciosas sugestões de Sálvio Nienkotter.