ATRAVESSADORES E COLABORATIVISTAS NA ECONOMIA – A essência da entrevista de Ladislau Dowbor a Niobe Cunha, na Kotter TV

Vamos começar com um dado básico. O PIB do Brasil foi de 7,5 trilhões de reais no ano passado. A população era de 212 milhões. Isso dá 11 mil reais por mês por família de quatro pessoas. O que o Brasil produz permite que todos vivam de maneira digna e confortável. E nem precisa ser aquela a distribuição dramática, de condições de igualitárias… basta reduzir minimamente a desigualdade.

E a gente sabe que a desigualdade é o problema do Brasil, e não é só pela injustiça que isso representa, o sofrimento que isso representa, o fato é que nenhuma democracia funciona a partir de um certo grau de desigualdade. Ela gera conflitos, gera eleitores que votam para qualquer um que fala em ódio, que vai destruir, que vai quebrar… e isso desarticula conjuntamente a economia.

No caso do Brasil, o que não falta são recursos. Eu trabalhei na ONU por sete anos na África, lá o colonialismo deixou terra-arrasada, lá você precisa tirar leite de pedra… agora, no Brasil nós temos os recursos. Nosso problema não é econômico, nosso problema é de organização política e social, nosso problema é de regras do jogo, e regras do jogo são escolhas da sociedade. Esse é o ponto de partida.

A bestialidade política que a gente vive é que gera tanto sofrimento, gera os 19 milhões de pessoas passando fome, sendo que 25% delas são crianças. E não foram essas pessoas que criaram esse sistema. Você tem um país que só de grãos produz todos os dias 3,2 quilos por pessoa. Ou seja, temos crianças passando fome, morrendo de fome no país… e os dirigentes falando em equilíbrio fiscal… isso é uma ignomínia e gera indignação interna, o que limita a democracia plena, e produz uma imagem lamentável do Brasil no resto do mundo.

Não estamos presos a coisas de Economia: a bolsa isso, o déficit aquilo… são escolhas nossas, escolhas políticas. Podemos viver como sociedade civilizada, mas não estamos vivendo como sociedade civilizada, vivemos em franca bestialidade.

A Forbes estuda os bilionários no Brasil, como vivem os bilionários e de onde vêm os recursos. Não se trata de gente que produz coisas, trata-se essencialmente gente que extrai de diversas maneiras. Para que tenhamos uma ordem de grandeza: no ano passado a Forbes fez o estudo de 42 brasileiros bilionários em dólar. Concluiu que eles aumentaram as suas fortunas em 180 bilhões de reais entre 18 de março e doze de julho, portanto em menos de quatro meses, e isso com a economia em queda. Aumentaram sua fortuna em 180 bilhões, 6 anos de bolsa-família. Sendo que a bolsa-família é anual (e não quadrimestral) e vai pra 50 milhões de pessoas.

E mais, são 180 bilhões de reais a mais em fortunas pessoais de gente que não paga imposto, que não produz nada, e que repassa boa parte das suas fortunas para os paraísos fiscais.

Quando você tem essas fortunas que explodem e a economia em queda, significa que as pessoas estão enriquecendo não porque estão produzindo mais e a economia está bombando, ao contrário, estão extraindo, drenando a economia. A economia internacional chama isso de capitalismo extrativista. E isto está simplesmente paralisando a economia. Por isto vivemos o oitavo ano em que a economia está parada no Brasil: um desastre para as pessoas.

O essencial é entender que são escolhas nossas, são arranjos políticos, são formas de organização social.

Vende-se para o povo a ideia de que ninguém entende de Economia, porque a economia é muito complexa. Mas é uma farsa que estão vendendo.

No capitalismo tradicional, pré-neoliberalista, quem produz sapato, por exemplo, está explorando os trabalhadores… e por isso a gente chia. Mas, nesse sistema capitalista industrial, para alguém explorar os trabalhadores e para enriquecer, pelo menos tem que produzir, tem que gerar emprego, e produzir produtos bons, para poder vender. E vai ter de pagar impostos, impostos que vão permitir aos governos fazer coisas essenciais para o país. Erguer as infraestruturas, de um lado, que melhoram a produtividade das empresas inclusive; e as políticas sociais do outro lado, como saúde, educação, cultura, segurança etc.

O bem-estar da família depende em parte do dinheiro no bolso, isso representa sessenta por cento do bem-estar. Os outros quarenta por cento advém do salário-indireto, representado pelo consumo coletivo. As pessoas precisam de segurança, mas você não compra a delegacia, precisam de saúde, mas você não compra o hospital, precisam de educação, mas você não compra a escola.

Nos países que funcionam, esse acesso aos bens de consumo coletivo é de acesso público, gratuito e universal.

Então temos que o capitalismo industrial, contra o qual a gente chiava porque explorava os trabalhadores etc., funcionava razoavelmente, porque produzia e gerava emprego.

Agora, no capitalismo financista, por exemplo, o cidadão vai comprar um fogão e, como não consegue pagar à vista, vai ter de pagar setenta e sete por cento de juros…

Esses setenta e sete por cento de juros vai enriquecer essa loja, ou a financeira que essa loja usa, que não produziu nada. Apenas tira dinheiro do bolso da população que não tem como pagar à vista, e esse dinheiro vai enriquecer justamente o intermediário que não gera emprego.

Quando você paga qualquer coisa no seu cartão de crédito, cinco por cento dessa compra vão para um banco intermediário, que é dono do cartão, um cartão que você pagou a anuidade, a loja pagou o aluguel da maquininha… o capital improdutivo extrai recursos da sociedade, por meio de dezenas de milhares de pequenas operações de compra e venda.

 

Quando tínhamos a CPMF, que cobrava 0,38 por cento, todo mundo chiava. Os 5% para o capital improdutivo parece não nos incomodar…

O dinheiro que está nos bancos não é deles, é essencialmente nosso, os depositantes. Mesmo assim estão cobrando em média 339 por cento no sobre o rotativo do cartão. Veja, no rotativo!, nem estamos falando de inadimplência. No Canadá, por exemplo, essa mesma taxa é de 11 por cento ao ano.

Assim, o cheque especial: que custa em média 136 por cento. Ou seja, foi gerado um sistema de apropriação do dinheiro das pessoas sem precisar gerar produtos, sem necessitar gerar emprego, há uma apropriação por meio da simples intermediação.

Isso foi possível porque o dinheiro mudou de natureza, de papel-moeda para sinal eletrônico. Isso gerou a financeirização, que é a forma de apropriação do excedente social no que as pessoas produzem, e é praticamente inevitável, porque ninguém vai brigar a cada pagamento na padaria, por exemplo, e assim eles vão acumulando cada vez mais.

Isso paralisa a economia. O Estadão entrevistou um empresário que declarou estar mais barato para contratar (porque foram quebrados os direitos trabalhistas e o desemprego força pra baixo os salários), mas que não há razão para contratar porque não há demanda, não há pra quem vender.

Isso é grave. Senão vejamos, uma empresa produtiva, que produza sapato, ou bicicleta, ou camiseta, não importa o que produza, para funcionar precisa de gente com dinheiro, para assim ter para quem vender; e precisa de crédito barato, para financiar a produção… Isso vale para qualquer país, inclusive para o Brasil, naturalmente. Acontece que no Brasil atual não temos nem uma coisa nem outra, porque quebraram a capacidade de compra das famílias (nós temos no 62 milhões de brasileiros no SPC, enforcados em dívidas, dentre os quais, 25 por cento encontram-se em bancarrota pessoal. Com isso tudo, as empresas estão ficando sem ter para quem vender, e aí precisam desesperadamente de empréstimo, e os bancos sabem que a empresa está desesperada, e que, portanto, vai pagar qualquer juro.  Com isso as empresas vão paralisando, gerando mais desemprego.

O desemprego que havia baixado em 2014 para 4,6%, hoje está praticamente 15%. Como a economia é um ciclo, a empresa que deixa de vender gera mais desemprego, baixando ainda mais a capacidade de compra das famílias, paralisando o consumo. E aí, como a maior entrada de impostos ao erário advém daquele imposto que recai sobre consumo, se reduz as entradas para as instâncias de Estado.  

Fez-se a derrubada da Dilma em nome de estabelecer um equilíbrio fiscal, mas o que fizeram gerou um buraco incomparavelmente superior, e esse buraco paralisou a economia inteira, exceto o setor exportador de bens primários, como carne, soja, madeira, minérios etc. isso porque a moeda foi desvalorizada ao extremo. Assim, se no tempo do governo Lula o exportador recebia R$ 2,50, agora recebe R$ 5,55.

Essa situação faz com que se prefira mandar para fora a produção, em particular os alimentos, gerando uma catástrofe social aqui. Some-se a isso o fato de que o produto que está indo para fora gera pouquíssimo empregos e um desastre ambiental. Some-se agora que, com a lei Kandir, desde 1996 a produção para exportação não paga qualquer imposto, nada gerando, portanto, para a sociedade como um todo, gerando apenas maior acúmulo para os ricos fazendeiros, por exemplo.

Isso é surreal, e explica a farsa dos agentes econômicos e a mídia só falarem de economia com terminologia complexa…

E estamos falando de nosso dinheiro, de nosso país, de crianças nossas que estão passando fome… uma bestialidade. Aliás, uma bestialidade que permite que ao Ministro responsável dizer que temos de ter confiança na nossa economia, mas coloca seu próprio dinheiro, sob nome fictício, em paraíso fiscal. Aí se descobre que o presidente do Banco Central faz a mesma coisa…

Mesmo assim, é importante entender que não são essas pessoas o problema, nem é o Bolsonaro o problema, o real problema são as pessoas que colocaram eles lá, como a família Marinho, os controladores do Bradesco, os acionistas do Itaú… os velhos e os novos multibilionários, o deep state brasileiro.

Para esses o Bolsonaro e o Guedes são ótimos, porque  assinam qualquer coisa. Quando por exemplo o Lula tinha anunciado que o pré-sal e a riqueza controlada pela Petrobras (que é uma herança da nação, porque ninguém produz petróleo, ele está no solo) seria destinada para financiar políticas sociais e a revolução científico-tecnológica e infraestrutura, fizeram o que fizeram. Resultado, hoje eles privatizam, e isso gera dividendos para e um conjunto de acionistas nacionais e internacionais que estão interligados e que simplesmente enriquecem desviando os recursos que são da nação. Lembremos que também os dividendos estão isentos de impostos no Brasil, sendo que no mundo a média de impostos sobre dividendos é superior a 35%, e fora do Brasil, só as ínfimas economias da Estônia e da Letônia não cobram nada sobre dividendos.

E as coisas vão mais longe, veja-se as tragédias da Samarco. O Brasil sabe produzir barragens. O Brasil produziu Itaipu etc., nós temos técnicos e a Samarco nada em dinheiro. Só que em vez de consertar suas barragens, a Samarco passava direto tudo para os acionistas, do Bradesco em particular.

É a lógica da financeirização, que não permite investir em infraestruturas, pensar no país, pensar no interesse de longo prazo da empresa, não! Importa sempre o resultado do trimestre, o repasse dos dividendos, porque o bônus que vão receber os diretores e os conselheiros da administração da Samarco é indexado pelos dividendos que repassam aos acionistas.

É importante entender que não é que temos pessoas malvadas, temos um sistema que privatiza a Petrobras, a Eletrobras, liquida o imposto sobre exportação, isenta os lucros e dividendos (atochando que se trataria de bitributação, quando não, absolutamente não é. A pessoa, o CPF, recebe esse dinheiro, aplica lá fora, e assim não paga nada de imposto em nenhum momento.)

Isso não funciona para o país, não funciona para os cidadãos, mas funciona para os muito ricos. No segundo trimestre o lucro do Itaú, por exemplo, aumentou 120% em relação ao segundo trimestre de 2020. Ou seja, aumentou 120% em 12 meses. O Santander aumentou em 102% os seus lucros… e enquanto o Brasil vai sendo drenado, esse pessoal usa paraísos fiscais, através do BTG pactual. Não à toa o André Esteves foi solto, é o passador das grandes fortunas dos brasileiros.

Do BTG pactual há um organograma com 38 filiais nas Ilhas Cayman e Bermudas, que são paraísos fiscais. Este é o nível.  A financeirização gera um dreno na economia e paralisa, apesar de tantos avanços tecnológicos, o crescimento econômico do Brasil e da população em geral, enquanto o enriquecimento dos grupos financeiros é absolutamente explosivo.

O mesmo dinheiro não pode ao mesmo tempo enriquecer grupos financeiros e construir escolas etc. Na fase Lula não era só o bolsa-família, eram 149 programas em conjunto com programas municipais… Foi um esforço muito amplo para elevar o nível de vida e de consumo da população, sempre visando o mercado interno.

O valor total das nossas exportações dá mais ou menos onze por cento do PIB. Ou seja, praticamente noventa por cento das nossas atividades é mercado interno, não somos um tigre asiático, uma Singapura, países que vivem de exportação. A fase 2003/2013 o Banco Mundial chamou década dourada do Brasil, porque se gerou mais recursos para a base da sociedade: elevação do salário mínimo, luz para todos, bolsa-família, minha casa minha vida… isso tudo gerou mercado para as empresas, e se gerou mercado, por que não gerou inflação? Porque as empresas estão subutilizadas no Brasil. Hoje as empresas estão trabalhando com entre 70 e 75 da sua capacidade, deixando grande capacidade ociosa. Quando se gera mais demanda, é mais produto que chega no mercado para o brasileiro consumir.

E hoje temos o pior dos mundos, porque a inflação tem sido gerada pelo contrário da oferta de produtos ao povo brasileiro. A carne e demais alimentos são enviados pra fora, causando escassez, e isso faz o preço subir. É preciso nos voltarmos ao mercado interno, esse gera um ciclo virtuoso na economia.

Segundo o Ipea, um Real que seja colocado na base da sociedade, seja pelo Bolsa Família, seja pela elevação do salário-mínimo, como ele não é um dreno, não é um custo, ele se multiplica, e esse efeito multiplicador é muito importante. E isso aumenta a capacidade de compra. E como você tem uma subutilização das capacidades produtivas, no conjunto o PIB aumenta não em um real, mas em um real e 78 centavos. Ou seja, se gera efeito multiplicador.

O Brasil está paralisado porque se está drenando a economia através de juros, através de dividendos isentos, através da exportação que não paga imposto. Isso é uma é uma tragédia e, ao mesmo tempo, é uma é uma comédia; porque a gente fica comentando o último twitter do Bolsonaro, sem ver que são os grandes grupos nacionais e internacionais que decidem.

Hoje o sistema do dinheiro imaterial representa 97 por cento da liquidez no mundo, e isso permite que um grupo financeiro extraia recursos de qualquer pessoa perdida na África do Sul, por exemplo. Ou seja, por meio do dinheiro imaterial, a capacidade de dreno planetário é absolutamente imensa.

 

///////// Economia colaborativa /////////

A Economia colaborativa se faz com a organização de toda a comunidade e aí registra-se uma plataforma colaborativa (e não uma plataforma financeira) que com isso estimula os membros da comunidade a comprarem uns dos outros, e, claro, sem pagar taxas a intermediários ou os juros do banco.

Trata-se de um processo colaborativo. A primeira questão que se ergue é tarifária. Como as transações são imateriais, para que seria preciso deixar uma fatia delas com os bancos a título de tarifas?  A segunda é de taxa de juros. Imaginemos dois vizinhos, Pedro e João. Pedro está acumulando poupança para iniciar a construção da casa dele dentro de dois ou três anos. João está construindo a sua agora. Muito bem, Pedro coloca na poupança bancária e recebe algo como zero por cento, apenas a correção da inflação, que é aproximadamente o que a poupança paga. Enquanto isso João, que está terminando a obra, necessita de um empréstimo para terminá-la, pois o custo resultou maior que o orçamento. Para não hipotecar a casa em um financiamento habitacional, ele precisa de um empréstimo pessoal. No sistema financista atual ele não conseguirá esse dinheiro (que, como esse exemplo mostra, não é dos bancos, mas sim de Pedro) por menos de 40-60% ao ano. O banco ganha dos dois. Mas seria muito mais lógico que eles fizessem esse empréstimo entre si e dividissem esse ganho do banco.

 

A economia colaborativa abre um imenso espaço para a sociedade deixar de depender de atravessadores, de intermediadores, de falsos facilitadores, os tais “xá-comigo, faço isso por você!”. Até porque o que os atravessadores cobram é o que mais paralisa a economia.

A economia colaborativa permite que grupos de pessoas, em rede, de maneira horizontal, giram sistemas que permitem a esse grupo escapar dos intermediários. Até porque a economia se dá por meios de relações, relações de poder, no caso.

O Brasil tem hoje 140 bancos comunitários de desenvolvimento, são brancos pequenos, e um dos melhores exemplos é o pioneiro Banco Palmas, na periferia de Fortaleza, no Ceará, fundado por iniciativa de Joaquim de Melo.

Esses bancos emitem uma moeda local em acordo prévio com os comerciantes e geram um sistema de pagamento entre eles, sem pagar intermediários, até porque o dinheiro é deles, e não dos bancos.

Nos Estados Unidos foi criado o Banco Prosper, que é uma plataforma colaborativa em que as pessoas se inscrevem e a partir daí quem tem dinheiro de sobra passa para quem está precisando. O sistema cobra uma taxa administrativa mínima, permitindo que a poupança de um se torne o investimento do outro, e a assim a coisa gira. Isso virou um negócio tão grande, que sequer sofreu com a crise de 2008. O fundador do Prosper tem uma frase de impacto: a atividade bancária é essencial, o banco não!

E é verdade. É possível utilizar a tecnologia e até os correios para negociar sem a intermediação de usurários.

 

É possível uma reapropriação da intermediação no nível das comunidades. Uma comunidade pode decidir que: para as trocas entre nós, vamos usar uma moeda nossa, sem pagar pedágio para ninguém.

Existem outros exemplos, como os de Heliópolis e Paraisópolis, para as quais o governo não estava assegurando ambulâncias, e aí resolveram fazer vaquinha. Essa vaquinha pagava o aluguel de uma ambulância para servir para a comunidade. Saía muito mais barato que cada um pagar um plano de saúde. Aliás, os planos de saúde nada tem a ver com saúde, são meros intermediadores financeiros entre pacientes e médicos.

Outro exemplo é o de uma dona de casa que faz bolos para vender. Ela montou uma plataforma online no bairro e passou de 2 para 10 bolos vendidos por dia. Apenas valendo-se da conectividade, esquivou-se da Ifood, dos bancos, de tudo que intermedeia.

Os intermediadores costumam se articular em forma de cartéis, e é muito difícil evitar que isso aconteça, até porque acontece em nível mundial. A atual subida dos preços do petróleo em nível internacional é isso. Não mudou o volume de produção, nem volume de consumo no mundo, que continua em torno de 102 milhões de Barris por dia.

O que temos que pode nos livrar dos intermediadores são os sistemas colaborativos, e é importante resgatarmos o controle do dinheiro. Como? Pelas plataformas dos bancos comunitários.

Da mesma forma, é importante resgatar o controle do conhecimento. A Wikipédia é um gigante mundial que ajudou muito a distribuir conhecimento gratuito. Funciona. Simplesmente as pessoas gostam de contribuir com alguma coisa. Então, quem tem conhecimento coloca lá e pronto. Isso gerou um sistema colaborativo planetário de construção de conhecimento que ajuda imensamente, inclusive os estudantes.

O conhecimento é imaterial, assim como o dinheiro hoje é imaterial, é um sinal magnético. O resgate do controle sobre o conhecimento e sobre a emissão de dinheiro é fundamental.

No antigo capitalismo, o essencial era a máquina e o produto, produtos físicos. Se alguém passa o seu relógio para alguém, fica sem relógio, isso em economia se chama bens rivais, ou pertencem a uma ou a outra pessoa. Mas se passa uma ideia mesmo assim continua com ela.

A China criou o Open resources for education. Toda a inovação científica de qualquer Universidade, uma tecnologia qualquer, é imediatamente passada para todos os centros de pesquisa e universidades da China. Com isso, na China ninguém está reinventando a roda, todo mundo está ao par do que avançou, o avanço de um fortalece o avanço de outro.

Isso poderia ser generalizado, por exemplo o acesso à tecnologia simples para pequenos agricultores no planeta todo, isso aumentaria a produtividade enriquecendo todo mundo.

Agora, porque que eles estão segurando patentes, copyrights, royalties… se o sistema de patentes está simplesmente travando a inovação? Esse sistema precisa mudar e dar lugar e importância para a colaboração do conhecimento. Aliás, em muitos casos, o conhecimento é fruto de pesquisas em instituições públicas. Há primeiro uma apropriação desse conhecimento, e depois um interdito, um pedágio para acessá-lo.

O conhecimento não é verniz, é o principal fator de produção hoje. E conhecimento é uma riqueza imaterial, que pode ser repassada sem que se fique privado dele. O desenvolvimento humano que gerou a tecnologia de hoje permite que isso seja feito a custo zero, ou quase zero.

Bezos adquiriu uma fortuna incalculável se valendo do atravessamento de bens materiais e imateriais. Em que ele investiu seu dinheiro? Em voar a 450 km da Terra, no espaço: mamãe, olha como eu sou bom!

Uma grande palhaçada esse conceito de sucesso. Inválido. O conceito de sucesso válido, que pode deixar uma pessoa minimamente ética feliz é o fato de conseguir contribuir com alguma coisa. O critério de sucesso é a contribuição. Pasteur é um homem de sucesso, não Bezos. Essa seria a mudança cultural da qual o atual capitalismo mais carece. Seja na China seja nos Estados Unidos.

Como conhecimento é o principal fator de produção hoje, o acesso livre ao conhecimento se tornou absolutamente fundamental. Então toda briga que tem hoje para tirar as patentes sobre as vacinas da Pfizer etc. é fundamental, inclusive porque todas essas vacinas estão sendo desenvolvidas com base em pesquisas públicas generalizadas. Ninguém poderia estar fazendo a pesquisa de Vacina se não fosse toda a pesquisa sobre o Genoma, por exemplo. Aí alguém se sentar em cima e cobrar o que quer pela vacina enquanto as pessoas estão morrendo… alegando propriedade intelectual…

Na economia imaterial do conhecimento a colaboração é muito mais produtiva do que a competição, mas se sentam em cima: é meu!

 

Esse negócio de ter praticamente um bilhão de pessoas passando fome, seis milhões de crianças de menos de cinco anos morrendo anualmente ou de fome ou por falta de acesso a água limpa… É uma Barbárie. Não é nem uma questão ideológica de direita ou de esquerda, é questão de decência humana!

O PIB Mundial de 88 Trilhões de Dólares dá o equivalente de 20 mil reais por mês por família de quatro pessoas. Se dividir o PIB do Brasil pela população brasileira, como disse acima, dá 11 mil reais por mês por família de quatro pessoas… Nada justifica essa situação famélica que vivemos.

Vale lembrar que não há muito tempo esse valor era igual para o mundo e para o Brasil, estávamos na média mundial. Hoje, com tudo que fizeram nestes últimos anos, caímos praticamente para a metade.

 

Hoje o essencial não é mais produzir. Se eu tenho um bilhão de Dólares, um só (e há quem os tenha às dezenas e até centenas) eu não preciso investir em produção para fazer esse bilhão crescer. Eu não vou criar uma fábrica, não vou criar empregos. Eu vou ao BTG pactual e aplico esse dinheiro no Credit Suisse, por exemplo, a cinco por cento ao ano, que é uma taxa muito moderada. Isso vai me dar 137.000 dólares ao dia. No dia seguinte ganharei cinco por cento sobre o bilhão e sobre os 137 mil, e assim por diante, num efeito bola de neve: quanto mais você enriquece, mais rapidamente você enriquece, e é isso que gera a catástrofe planetária dessa desigualdade absolutamente explosiva.

Junte-se a isso a destruição do planeta em termos ambientais, porque essa destruição está sendo monetizada.

Eis, entre muitas outras, as razões de que quando falam de economia na TV quase ninguém entende nada: é que se tenta explicar coisas que não são explicáveis, então eles têm que enrolar mesmo.

 

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