Ode Mundana – Luiz Felipe Leprevost
O que te aguarda depois da entrada é um único e longo poema no qual o autor inscreve sua visão em grande angular da terra devastada. Seu bilhete nervoso deixado na geladeira do mundo. (...) Eis uma canção desesperada que ao cantar estes “martírios de beleza” acaba deixando um gosto de impressão contrária que de resto é o próprio nome...
Ontem – Jorge Miranda
Penso nos riscos que uma obra estabelece para si ao apresentar, como título, uma marca temporal tão complexa quanto se tivera sido nomeada como “hoje” ou “amanhã”. O ontem, como uma instância resistente ao desmonte, não se ajusta totalmente à categoria de passado remoto, memorial; porém, é a fração mais imediata do cronos a se distinguir do agora, do presente instantâneo. Um momento recente, talvez ainda...
Os Acampamentos Insustentáveis – Anelito de Oliveira
Sendo mineiro, Anelito de Oliveira é um articulador de silêncios. E é isso o que ele evidencia em cada texto deste livro, a existência duma rude ruptura na tessitura do diálogo social, reflexo talvez da ruptura individual. Cada uma das obras que compõe esta obra busca, com uma diluída urgência [e este seria nosso primeiro ato político verdadeiro], recuperar o lugar dedicado ao silêncio, ou seja, o lugar da escuta, via...
Ou o Silêncio Contínuo – Poesia Reunida 2007-2019 – Marcelo Ariel
"Marcelo Ariel é um dos grandes poetas brasileiros em atividade, isso não se discute. Esta reunião de sua poesia mostra potência em várias formas, no embate político, na deriva filosófica e no recurso jazzístico ao improviso. Ariel transita entre ruelas e vastos espaços, o silêncio solitário e o berro da guerrilha, enquanto ele próprio faz da autometamorfose poética uma ética....
Outros Barulhos – Reynaldo Bessa
Eu conheci Reynaldo Bessa no interior das Minas Gerais, num festival de música em Caxambu, onde fomos do júri. Lá começou tudo, com o poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens, musicado por ele, o que me surpreendeu. O projeto Terças Poéticas batia recordes de público nos jardins internos do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Convidei, então, o músico e poeta para participar...
Paisagem Circular – Emerson Cruz
Criticando os escritores alemães de sua época, Schopenhauer, numa passagem dos seus Parerga e paralipomena, afirma o seguinte: “deve-se usar palavras comuns e dizer coisas incomuns, mas eles fazem o inverso”. Claro que é uma frase de efeito e, como tal, deve ser vista com ressalva – como algo que pode conter sua dose de verdade, mas que jamais serve como regra universal. Lembro aqui, por exemplo,...
Pandemônio – Edson Cruz
Falta temporária - Sob encomenda Pandemônio é uma das primeiras manifestações literárias que li provocadas pela ou no contexto da pandemia que vem transformando 2020 em um daqueles cronônimos capazes de impactar [...] O poeta Edson Cruz tem muita consciência desse tempo presente que o marcou: ele e sua família enfrentaram o COVID-19, conheceram os percalços da contaminação, sobreviveram. Existe...
Pantaneira: Pantanal e Rio Paraguai – Ewaldo Schleder e Julio Covello
REPORTAGEM-POEMA De uma natureza atemporal “Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos” - Manoel de Barros A palavra Paraguai (Paragua-y) remete à vertente guarani, que também é língua oficial desse tão próximo e tão distante país vizinho. Assim como Asunción, Concepción, Encarnación, Vallemí – todas às margens do grande...
Para Um Túmulo Anatole – Stéphane Mallarmé – Trad. Guilherme Gontijo Flores
Stéphane Mallarmé, antes de morrer, pediu que sua filha Geneviève queimasse todas as suas notas e um conjunto de pequenas folhas manuscritas. Escritas entre 1879 e 1880, depois da morte de seu filho de oito anos, essas páginas chegaram até nós com o título Para um túmulo de Anatole, permanecendo, porém, inéditas até 1961. O autor nunca quis publicá-las nem se referiu a elas em...
Parsona – Adriano Scandolara
Nestes tempos em que os procedimentos concretistas integraram-se ao cânone, a poesia experimental tornou-se carne de vaca; ganhou em prestígio o que perdeu de potencial crítico. O verso morreu. É com tal ânimo que recebemos Parsona, de Adriano Scandolara, e ele vem como uma lufada de vento fresco — ou uma bofetada — na cara. Aqui, o experimentalismo não tem...
pedra-placebo – Marcelo Wilinski
SOBRE ESTE LIVRO Matéria de poesia sendo pedra: solidez de mineral; natureza de rocha; fragmento solto; no duro no duro. Matéria desta pedra sendo efeito: o fármaco inerte e neutro, de cura e mágica; aquilo que suscita, o que substitui. Placere, placebo, prazer. Abrem-se as cortinas: a poesia-cristal de MARCELO WILINSKI (sim, escreve-se com maiúsculas sobre esse moço) vem aqui para consertar o coração, os...
Pequeno Tratado do Amor e da Natureza – Roberto Nicolato
Falta temporária O leitor e a leitora têm em mãos um livro de um poeta que é, antes de mais nada, um artífice da palavra. Os poemas de Pequeno tratado do amor e da natureza apresentam de fato várias facetas de Roberto Nicolato sob o escopo da artesania poética, ou seja, sua poesia é práxis vital. Nicolato transita entre...