por Daniel Osiecki
Amanhã vai ser outro dia…
Não é novidade para os leitores e leitoras desta coluna que os dois pseudo-ministros que assumiram a pasta da educação este ano (primeiro Ricardo Vélez Rodriguez e depois Abraham Weintraub) são temas de minha predileção, mesmo contra minha vontade.
Como esta coluna é mensal, sempre ao terminar o texto do mês, automaticamente passo a pensar no próximo tema e desejo realmente voltar às resenhas literárias, mas a trupe mambembe que assumiu o comando do país não me dá trégua. Fico pensando frequentemente que será impossível o Sr. Weintraub ou o Sr. Olavo de Carvalho se superarem, mas sempre se superam. O mesmo acontece com o capitão do mato, o recruta zero e seus zeros à esquerda.
Abraham Weintraub falou na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio deste ano, e foi lá que confundiu o escritor tcheco com o espetinho árabe. Weintraub, ex-aluno do youtuber idoso Olavo de Carvalho, disse que sofreu um “processo inquisitorial e sigiloso”: “Que eu saiba só a Gestapo (polícia nazista de Hitler) fazia isto. Ou no livro do Kafta ou na Gestapo”.
Na mesma ocasião o ministro disse que poderia ter entrado na USP aos 14 anos de idade e que é mais inteligente do que os últimos 15 ministros que assumiram a pasta.
O nobre leitor e a nobre leitora podem estar pensando que o fato de o ministro nunca ter lido Kafka e confundi-lo com o prato árabe é irrelevante; sim, realmente é irrelevante, mas esses pequenos deslizes da ala mais lisérgica do governo (pasmem, não são dos milicos), representam um conjunto de pensamento que visa duas coisas básicas: a) desmonte da educação pública; b) antiintelectualismo. Naturalmente que ambas as situações dialogam e uma só existe através da outra. Os cortes do governo vão da Educação Básica à Pós-Graduação. Vamos a alguns números preocupantes:
Educação Básica – 39,68% de recursos bloqueados
Universidades Federais – 25,38% de recursos bloqueados
Institutos Federais – 34,54% de recursos bloqueados
Hospitais Universitários – 12,8% de recursos bloqueados
Fies – 8,6% de recursos bloqueados
Capes – 20,9% de recursos bloqueados
Total – 13,4% de recursos bloqueados (Fonte: Andifes)
O que resta a nós professores, artistas, educadores, intelectuais é continuar fazendo oposição, é continuar resistindo, indo pra rua. Os movimentos do dia 15 de maio foram lindos. Aqui em Curitiba, terra da caretice e da breguice representada por Moro, Dallagnol e seus asseclas, a chuva e o frio não espantaram em momento algum os quase 8 mil manifestantes (incluindo este colunista).
Já encerrei esta coluna, certa vez, com os versos de Belchior, “Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina. Eles venceram, e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens”… Hoje encerro com os versos do Chico:
“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
De “desinventar”
Você vai pagar, e é dobrado
Cada lágrima”…
P.S. Parabéns ao grande Chico Buarque pelo Prêmio Camões 2019 pelo conjunto da obra. Certamente o júri do prêmio é comunista e mama nas tetas da Lei Rouanet!
*Daniel Osiecki nasceu em Curitiba, em 1983. É professor de literatura, crítico literário e editor regional da Revista Flaubert. Publicou o livro de contos “Abismo” (2009). “Sob o signo da noite” (contos) é seu segundo livro. Mantém o blog “Távola Redonda” (www.novatavolaredonda.blogspot.com), organizador do coletivo “Vespeiro”.
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