por Bruno Nogueira
Sexta-feira, 20hrs: entra em efeito o toque de recolher da pandemia, útil como guarda-chuva em área coberta. Quem até então ocupava as mesas dos bares lotados, presumivelmente sem transmitir o vírus, começa a transmitir, e o perigo surge. Tomam a atitude sensata: entram nos bares, que fecham as portas a seu redor, ou saem deles e ficam de pé bebendo à porta. Formam filas na porta de distribuidoras de bebida com variáveis distância e uso de máscara.
Demoro um pouco a entender, talvez aceitar, que parte de mim tem inveja.
Não farei nada disso. Um vizinho de minha avó foi vetor da doença e terminou por matar mãe e irmã. Não aceito esse risco. Talvez se trabalhasse fora, fosse obrigado a tomar ônibus lotados, trabalhar ao lado de outros tantos funcionários e clientes, me importaria menos, por já estar tão exposto. Talvez se vivesse sozinho ou todos a meu redor morressem. Mas não vou ajudar a acontecer.
Quero toques e festas e conversas, me bate a vontade estranha de me sentar numa lanchonete lotada no centro, no meio da tarde, e abraçar a garçonete e o caixa, de conhecer gente e assistir a um show enorme cantando a plenos pulmões, com o corpo coberto de suor parcialmente meu.
Mas por enquanto, fico em casa.
Bruno Nogueira é um escritor e tradutor mineiro, nascido em Lagoa da Prata e radicado em Curitiba. Bruno lançou com a Kotter o seu primeiro livro de contos, A Síndrome do Impostor (2018).
Foto: Iberê Camargo, 1914 – 1994, Restinga Seca, Rio Grande do Sul
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