Deng Xiaoping e a Modernização Socialista da China: Continuidade de Mao a Xi

Deng Xiaoping, as Quatro Modernizações e a Abertura Econômica

Deng Xiaoping é amplamente reconhecido como o principal arquiteto das reformas econômicas e da modernização socialista na China. Sob sua liderança, a partir de 1978, o país adotou o programa das Quatro Modernizações – agricultura, indústria, defesa e ciência-tecnologia – originalmente proposto por Zhou Enlai nos anos 1960 e retomado após a era Mao. Essas modernizações foram a estratégia para o rejuvenescimento econômico e tornaram-se a marca do mandato de Deng, incluindo a política de Reforma e Abertura controlada ao exterior. Em 1979, ele introduziu a ideia de construir uma sociedade “moderadamente próspera” (xiaokang), indicando sua visão de desenvolvimento gradual dentro do socialismo. Deng inaugurou o modelo de socialismo com características chinesas, materializando na prática os ideais revolucionários de Mao, mas com ênfase no crescimento econômico e na melhoria material do país.

Impacto Social Positivo das Reformas de Deng

As reformas desencadearam um crescimento impressionante: desde 1978 o PIB chinês cresceu em média mais de 9% ao ano e mais de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema. A China responde por cerca de 75% da redução global da pobreza nessas décadas. A expectativa de vida ao nascer saltou de 35 anos (1949) para 78,2 anos (2021), e doenças infecciosas graves foram eliminadas. A alfabetização e o acesso ao ensino básico e superior avançaram de forma igualmente rápida. As políticas de Deng colocaram o país numa trajetória de desenvolvimento humano ascendente.

Continuidade Histórica: de Mao Zedong a Deng e Xi Jinping

Longe de ruptura, a era Deng foi concebida como continuidade e atualização do legado de Mao. O próprio Deng declarava: “Sem o presidente Mao, o povo chinês teria tateado no escuro por muito mais tempo… Sem Deng Xiaoping, o povo chinês não teria a nova vida de que desfruta hoje”. O Partido Comunista descreve Mao como o primeiro salto histórico na adaptação do marxismo à realidade chinesa, e Deng como o segundo. Xi Jinping, por sua vez, apresenta-se como prosseguimento desse fio condutor: “Agora é nosso dever continuar escrevendo esta grande narrativa”. Assim, Mao, Deng e Xi são partes de uma mesma linha, cada qual contribuindo para etapas sucessivas da construção do socialismo à chinesa.

Xi Jinping: Prosperidade Comum, Soberania e Nova Rota da Seda

Prosperidade comum. Deng insistia que pobreza e grande polarização não são socialismo. Xi retoma o conceito para reduzir desigualdades regionais e de renda, regulando o capital privado e fortalecendo a seguridade social.
Soberania nacional. Deng negociou o retorno de Hong Kong e Macau sob o princípio de integridade territorial; Xi declara que “nenhuma força estrangeira nos subjulgará” e investe na modernização das Forças Armadas.
Iniciativa do Cinturão e Rota. Lançada em 2013, a BRI conecta a China a mais de 150 países por corredores terrestres e marítimos, projeto que expande globalmente a lógica de abertura econômica iniciada por Deng.

Crítica ao Imperialismo Ocidental

Em contraste com o desenvolvimento pacífico promovido pela China, intervenções militaristas ocidentais devastaram países da Coreia ao Oriente Médio. A Guerra da Coreia (1950–1953) custou cerca de dois milhões de vidas coreanas e centenas de milhares de chinesas; no Vietnã morreram aproximadamente dois milhões de civis. Guerras recentes no Iraque, Líbia e Afeganistão legaram Estados falidos e enormes perdas humanas. A narrativa chinesa sublinha que seu modelo busca cooperação e respeito à soberania, em oposição às “guerras de agressão” ocidentais.

Desenvolvimento Humano, Desigualdade e Soberania: Comparações

A China saiu do baixo para o alto desenvolvimento humano: IDH 2022 = 0,788 (75.º lugar), após erradicar a pobreza extrema rural. O IDH ajustado à desigualdade perde 16%, ligeiramente menos que a média da região Ásia-Pacífico. Preservando autonomia política, a China pôde traçar estratégias de longo prazo; Banco Mundial e ONU reconhecem “o crescimento sustentado mais rápido da história” e sua contribuição decisiva para a redução da pobreza global.


Leitura recomendada – Kotter Editorial

Para quem deseja aprofundar-se na obra e no legado do líder reformista, a Kotter Editorial acaba de lançar Deng Xiaoping: as ideias que transformaram a China na superpotência do século XXI, de Fernando Marcelino Pereira (112 p., 1.ª ed., 2025). A partir de ampla pesquisa histórico-sociológica, o autor examina a estratégia gradualista de Deng, suas influências teóricas e o impacto de suas reformas sobre a ascensão chinesa contemporânea. O livro dialoga diretamente com os temas discutidos neste artigo e oferece uma síntese sólida para leitores interessados em compreender o socialismo de mercado e os caminhos da modernização chinesa.


Fontes

  • Deng como “principal arquiteto” das reformas e do socialismo com características chinesas – en.theorychina.org.cn
  • Implementação das Quatro Modernizações e sociedade moderadamente próspera – en.wikipedia.org
  • Redução da pobreza (800 milhões) e crescimento médio de 9% – worldbank.org
  • Expectativa de vida (35 → 78 anos) e eliminação de doenças – english.gov.cn
  • Continuidade Mao–Deng–Xi e citações de líderes – en.theorychina.org.cn
  • Discurso de Xi sobre soberania e modernização das Forças Armadas – reuters.com
  • Belt and Road Initiative (Nova Rota da Seda) – en.wikipedia.org
  • Mortes na Guerra da Coreia e no Vietnã – britannica.com
  • Guerras no Iraque, Líbia e Afeganistão – opendemocracy.net
  • IDH e pobreza na China – undp.org
  • PEREIRA, Fernando Marcelino. Deng Xiaoping: as ideias que transformaram a China na superpotência do século XXI. Kotter Editorial, 2025.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *