Entre grades e ideias: a surpreendente jornada literária de Márcio Nepomuceno

Preso desde 1996, Márcio dos Santos Nepomuceno — o Marcinho VP que as manchetes de outrora ainda vinculam ao poder do crime — transformou a cela em ateliê intelectual. Entre muros de concreto, papel e caneta tornaram-se suas ferramentas para denunciar o Brasil que a maioria não vê: o das grades, da exclusão e da seletividade penal. E sua construção literária mais recente é A Cor da Lei, em pré-venda pela Kotter.

Além do título já mencionado, dessa disciplina silenciosa nasceram outros três livros, todos escritos em presídios de segurança máxima. O primeiro, O Direito Penal do Inimigo (2017), chamou a atenção de juristas ao revelar, em prosa direta e bem documentada, como a Justiça brasileira pune de modo desigual os réus de origem periférica. Veio então Preso de Guerra (2022), um relato dos bastidores do cárcere que investiga o papel do Estado na reprodução da violência. O mais recente, Execução Penal Banal Comentada (2023), alia vivência pessoal a comentários jurídicos, voltando-se sobretudo a estudantes e profissionais do Direito.

Os manuscritos percorreram um trajeto árduo: saíram de celas muitas vezes sem computador, internet ou biblioteca e, via correio, alcançaram advogados, editores e leitores do lado de fora. Assim, Márcio passou a ser referência em trabalhos acadêmicos, tema de debates universitários e, simbolicamente, ocupante da cadeira 1 da Academia Brasileira de Letras do Cárcere, cujo patrono é Graciliano Ramos.

Para a filha, Débora Gama, esses textos funcionam como orientação espiritual e prova de que mesmo o tempo encarcerado pode ser empregado para construir. Quase três décadas após a prisão, o nome Marcinho VP circula também nos corredores da reflexão crítica sobre o sistema penal. Seus livros não reescrevem o passado, mas revelam a complexidade de uma trajetória que se recusa a terminar no ponto em que começou: entre grades, silêncio e papel, forjou-se um escritor que desafia a própria ideia de destino.

Novidade em pré-lançamento

A Kotter Editorial acaba de colocar em pré-venda o romance A Cor da Lei (Curitiba, 2025, 496 p., ISBN 978-65-5361-454-3). Nele, Nepomuceno faz do Rio de Janeiro um tabuleiro onde ambição, violência e busca por justiça colidem, confirmando a maturidade narrativa de um autor experiente que converteu a clausura em literatura de alto fôlego. Reserve seu exemplar no site da editora e acompanhe mais um passo dessa surpreendente jornada literária.

Respostas de 4

  1. Marcio Santos Nepomuceno tem se dedicado e preenchido a sua mente com a leitura e escrita ele foi o meu mentor literário que me encentivou a escrever um livro com a minha história e com superação que Jesus fez na minha vida eu me orgulho de você meu filho

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