As numerosas manifestações ocorridas no dia 29 de maio apontaram para um período de retomada das mobilizações populares, o que superou as expectativas de diversos setores políticos no campo da esquerda. Segundo o balanço dos organizadores, os atos reuniram cerca de meio milhão de pessoas em mais de 200 cidades do país.
A frente única constituída para a convocação das manifestações foi um dado essencial que assegurou a realização da jornada de luta pelo Fora Bolsonaro, por vacinação e pela volta do auxílio emergencial de 600 reais. O fator principal do sucesso do 29M foi a adesão aos atos dos milhares de brasileiros revoltados com o governo da extrema direita, mesmo num período de forte incidência da pandemia de Covid-19. Ou seja, o 29M indicou uma clara tendência de retomada das ruas e revelou a disposição combativa de amplas camadas da população.
A emergência da luta popular é o fator que pode acelerar a decomposição do governo de Bolsonaro e dos generais, que afundou o país na miséria, na pobreza, no desemprego massivo e na marcha batida do genocídio de quase 500 mil brasileiros. Enquanto isso, passa no Congresso Nacional a “boiada” das privatizações, do desmonte ambiental e dos serviços públicos – demonstrando que a presença de Bolsonaro no governo é tão ou mais letal que o coronavírus.
A volta às ruas no Brasil segue o mesmo impulso das mobilizações em curso nos demais países da América Latina contra a devastação provocada pelo neoliberalismo: A rebeldia popular na Colômbia; o processo constituinte no Chile; a resistência na Bolívia e a vitória eleitoral de Pedro Castillo no Peru.
Um processo que segue o ritmo e a tradição de luta de cada povo, mas que rejeita em seu conjunto o modelo de exclusão social e da concentração oligárquica do poder nas mãos das frações burguesas financeirizadas e agroexportadoras – aliadas internas em cada país do imperialismo.
Unidade da esquerda em cima e embaixo
A largada das manifestações de rua contra o governo neoliberal e autoritário de Bolsonaro foi forjada pela ação combinada do ativismo da militância na base dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda e da percepção de camadas de dirigentes políticos de que era o momento de superar o imobilismo da palavra de ordem de “fique em casa”.
A unidade das organizações agrupadas nas frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e os partidos da oposição de esquerda – PT, PSOL, PCdoB, PCB, UP, PCO – garantiram o êxito da jornada de luta do 29M. Neste sentido, é necessário reforçar a unidade conquistada, preservar os fóruns e as plenárias unitárias em cada cidade, acumulando forças na construção de um bloco político e social de esquerda para disputar os rumos do país – aqui e agora.
A frente única abre o caminho para a derrota do governo de Bolsonaro e impulsiona uma saída pela esquerda da crise, isolando ao mesmo tempo os conciliadores da “frente ampla” e o divisionismo infantil de certos segmentos que apostam na imaginária superação do PT.
A frente única pelo Fora Bolsonaro deve atuar sem vetos e exclusivismos de qualquer tipo, respeitando as diferenças de cada organização e partido, criando mecanismos permanentes de consulta e avançando na direção de uma estrutura permanente de diálogo e concertação unitária – grupos operativos conjuntos, agenda e bandeiras de lutas unificadas.
A frente única da esquerda pelo Fora Bolsonaro é o instrumento decisivo para deter as maquinações golpistas do governo da extrema direita, que, cada vez mais, diante da rejeição crescente, tensiona com ameaças golpistas e instaurar um período termidoriano de perseguição e intimidação dos opositores. Além disso, Bolsonaro busca construir uma narrativa para fraudar as eleições de 2022, propondo um duplo sistema de votação com a adoção do chamado “voto impresso”.
Portanto, nas ruas, com unidade, nenhum dia a mais ao governo genocida de Bolsonaro e dos generais. 19 de junho vai ser maior.
Milton Alves é ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial. Escreve semanalmente em diversas mídias progressistas e de esquerda.