As novas eras não nascem repentinas.
2091. Há quarenta e um anos, a humanidade vive a Nova Era.
Após as chamadas Três Décadas do Apocalipse, marcadas por uma sequência de catástrofes naturais e sociais (mudanças climáticas, epidemias sucessivas, crises econômicas, guerras), a população do Planeta reduziu-se a menos de um quarto do total contabilizado em 2019. No final da década de 40, uma pandemia extermina velhos e crianças. Nações e estados entram em colapso, e as Corporações assumem o controle do mundo. Em 2050, criam a chamada Vacina Ganimedes, e a aplicam em toda a população remanescente.
A Vacina interrompe o envelhecimento dos corpos, eliminando, ao mesmo tempo, a totalidade das doenças conhecidas. Surge uma nova humanidade, composta de seres sadios e supostamente imortais. Efeitos colaterais: os humanos perdem algumas de suas capacidades criadoras: acordados, já não podem procriar; adormecidos, são incapazes de sonhar.
Brasília. Agosto de 2091.
O Escritor Mário Ramos abre a janela do seu apartamento e vê a neve cair sobre a cidade.
***
O Teorema da Extinção das Famílias pode ser exposto de forma simples, como segue:
Na Nova Era, não se fabricam crianças novas, e as únicas que ainda permanecem entre nós (pelo menos, na aparência física) são os pré-adolescentes que sobreviveram à Peste das Pestes e puderam se beneficiar da Vacina Ganimedes.
Na Nova Era, os casais (de qualquer tipo ou gênero), a rigor, não mais existem, exceto por alguns teimosos reminiscentes da Era Velha, que insistem, por costume ou por medo do silêncio, em manter ao seu lado, sob o mesmo teto, uma companhia humana.
Logo, sem a formação de casais, e sem a produção de filhos, não se produzem novas famílias na Nova Era.
Sendo assim, a relação de cada pessoa com o restante da humanidade, e sua inserção no meio social, se faz de maneira direta, sem a mediação dessa que foi, talvez, uma das mais importantes e longevas instituições das sociedades humanas.
Portanto, nesse aspecto, pode-se definir a existência na Nova Era como um permanente exercício da vida em solidão.
Dr. Élcio Peregrino
O Evento Ganimedes e a Nova Era
***
autor: Tristão Botelho
16X23 cm
312 páginas
ISBN 978-65-5361-308-9
R$ 114,70 R$ 80,29
As transformações radicais que moldam nossa sociedade não ocorrem de maneira repentina. No romance 2091, estamos imersos no contexto de uma Nova Era, que se iniciou há quarenta e um anos, após um período catastrófico conhecido como as Três Décadas do Apocalipse. Este período foi marcado por uma série de catástrofes naturais e sociais — mudanças climáticas, epidemias em sequência, crises econômicas e guerras. Como resultado, a população mundial sofreu uma drástica redução, caindo para menos de um quarto do que era em 2019.
No ápice dessa era de declínio, uma pandemia devastadora exterminou os mais vulneráveis, crianças e idosos, provocando o colapso de nações e o surgimento do domínio corporativo. Em 2050, as corporações desenvolveram uma solução radical: a Vacina Ganimedes. Esta não só interrompeu o envelhecimento, como também erradicou todas as doenças conhecidas, dando origem a uma nova raça de humanos saudáveis e eternos. Contudo, esta maravilha científica veio com um preço: a perda da capacidade de procriar e de sonhar.
Na prática, a Nova Era é um tempo onde novos nascimentos são inexistentes. Os únicos jovens que restam são aqueles pré-adolescentes que, por sorte, sobreviveram à pandemia e foram imunizados com a Vacina Ganimedes. Casais, como conhecidos anteriormente, praticamente desapareceram, restando apenas alguns resistentes da Era Antiga que, por hábito ou temor da solidão, ainda coabitam.
Sem a formação de novas famílias, cada indivíduo interage diretamente com a sociedade, sem a tradicional mediação familiar. Essa mudança redefine profundamente nossas interações sociais e enfatiza um estado de isolamento como a nova norma existencial.
Portanto, o romance 2091 nos oferece um vislumbre de um futuro onde a humanidade enfrenta o desafio da solidão imposta, uma consequência direta da sua própria inovação e sobrevivência. A existência na Nova Era, segundo o teorema da extinção das famílias, é caracterizada por um isolamento contínuo, desafiando nossa compreensão do tecido social e da própria natureza humana.
Foto do autor: Júlia Salustiano
Tristão Botelho nasceu em Paracatu, Minas Gerais (nos Gerais do trovão, nos Gerais do vento), em agosto de 1961, quando Brizola liderava a Campanha da Legalidade, de saudosa memória.
Aos sete anos, mudou-se para Brasília, onde até hoje vive e, de vez em quando, escreve.
Na verdade, gosta mais de amar e ler do que de escrever. Mesmo assim, produziu, nesses anos todos, mais livros do que filhas (essas, em luminosa parceria). Fosse o contrário, sairiam ganhando a humanidade e a literatura.
As filhas estão por aí, ganhando o mundo. Dos livros, dois foram publicados comercialmente: o romance A canção de Heráclito obscura (Editora Estação Liberdade, 1991) e a coletânea/antologia de poemas Livros de mar – roteiros poéticos (Editora Mês, 2016).
Publicou ainda, por conta própria e em edição limitada, fora de comércio, o romancim Cassandra em chamas (2012); e, em colaboração com a artista plástica Emília Botelho, o livro de poemas/galeria de desenhos Metamorfoses (2010).
Por enquanto, é isso.