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A cadelinha Lua, após viver um percurso de aventuras e desventuras, passa a morar com um papagaio inteligente e debochado, na casa de uma professora que também tem uma vida agitada. É durante essa inusitada convivência entre dois animais tão distintos que o enredo se constrói, porque, sim, o papagaio astuto se debruça a escutar as memórias das andanças de Lua. Isso porque a trajetória de Lua, desde que fora “sequestrada por humanos”, ao nascer, é marcada por atitudes distintas: ora abandono, ora acolhimento; ora afeto, ora maltrato. Vivendo nas casas de uns e de outros, sendo até expulsa e obrigada a viver nas ruas, era frequentemente espancada por garotos, bêbados e drogados. Passava sede, fome e frio. Dormia embaixo de pontes e de viadutos e, em uma atípica noite de chuva, foi violentamente espancada por um bando de garotos, que só a deixaram em paz quando viram-na desfalecer. Abandonaram-na no meio da rua, sob a chuva e o frio. Mas, de madrugada, uma pessoa a retira do meio da rua e a coloca sob a proteção da chuva debaixo de um banco, aquecida por jornais. Lua consegue, então, se reerguer com o único objetivo de sair dali e de encontrar um lugar mais seguro e tranquilo para ficar. Finalmente, encontra um antigo casarão abandonado numa ruazinha estreita e esburacada. Nesse casarão, ela faz amigos e descobre, ao entrar num quarto diferente, um mundo mágico que vai lhe revelar a verdadeira missão de sua vida. Existem muitas cadelinhas vivenciando amostras da história de Lua, e isso é suficiente para motivar, você, leitor, a mergulhar nesse enredo, pois, certamente, seu olhar será ressignificado.
Mirian Alves Pereira
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A autêntica força de Luciene numa arte imorredoura
Entendemos a literatura como a arte de contar bem uma história. É a palavra trabalhada como uma pedra preciosa nas mãos hábeis de um ourives. Ao longo das gerações, essas narrativas encantavam os homens e encerravam, ao mesmo tempo, o propósito de educá-los. É por essa razão que a literatura não acaba, não morre, porque é absolutamente necessária hoje para a nossa civilização e bem-estar. Prova disso são as bibliotecas e as livrarias permanentemente cheias de obras clássicas e atuais.
O eminente professor e crítico Antonio Candido destaca que a literatura é um direito humano – como comer, beber, perceber um salário que permita a sobrevivência digna – porque todos nós temos a capacidade de fabular, de imaginar. Luciene Aguiar Oliveira vem, em boa hora e com admirável talento, oferecer-nos um texto de muita qualidade, que certamente agradará aos leitores mais exigentes.
Escritores modernos como Jorge Amado, em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1976), por exemplo, retomaram uma antiga tradição que imediatamente remete a Esopo e a La Fontaine: narrativas cujos personagens são os animais. Nestas fábulas modernas é que encontra o trabalho da baiana Luciene Aguiar Oliveira – trabalho vigoroso e interessante.
O que encanta e surpreende na narrativa de Luciene são a construção das personagens e as situações que conduzem a história. Acompanhamos as reflexões e a saga de Lua, a protagonista, e as de seus amigos. (É inevitável, aqui, a lembrança da cachorra Baleia, de Vidas Secas, clássico de Graciliano Ramos, de 1938).
No panorama atual da literatura, pode-se afirmar, com efeito, que Luciene Aguiar Oliveira chegou para ficar.
* Teotônio Alves de Moura Júnior
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A Viajante do Bem – Luciene Aguiar Oliveira
ISBN 978-65-5361-121-4
116 páginas
16X23 cm
R$ 44,70 R$ 31,29
Natural de Caetité (BA), Luciene Aguiar Oliveira é licenciada em Letras e servidora pública do Instituto Federal Baiano. Nas horas vagas, além de desenhar e fazer pintura em tela, com reconhecimento no Brasil e no exterior, sendo, inclusive, publicada em catálogos e revistas de circulação nacional e estrangeira, premiada com medalha de ouro, medalha de prata e menções especiais e honrosas, também escreve, tendo como consequência disso, muitas folhas peregrinas datadas dos tempos de colégio até os dias de hoje. Seus escritos já foram publicados em Antologias, Revista Cult e site da Revista Piauí.