SENDAS
O livro Maria apresenta diversos elementos bastante interessantes. Adenildo demonstra um domínio da narrativa não linear e com forte tendência histórica. Sua narrativa apresenta elementos que se entrelaçam e criam uma espécie de painel social de diferentes épocas.
O autor prega peça no leitor ao deixar uma espécie de vácuo de expectativa (para citar António Cândido), que consiste em preparar o leitor com um falso elemento surpresa, mas o ato esperado permanece em stand by e nunca acontece. O grande escritor paranaense Manoel Carlos Karam era mestre nisso.
Não ficam fora desta obra elementos de tensão, de suspense e mistério. Muito interessante (e acertado por parte do autor) deixar que o leitor descubra por si só alguns meandros de sua narrativa que vão se completando no decorrer da leitura.
É interessante a forma como Adenildo divide os capítulos de sua novela, ou seja, entrelaçando nomes próprios (masculinos e femininos) com localizações geográficas. Isso funciona como se cada capítulo tivesse uma relevância independente dentro da narrativa.
Daniel Osiecki, poeta e editor
Outono 2021
ISBN: 978-65-89624-02-8
108 pág.
R$ 44,70 R$ 31,29
Maria é uma cortadora de cana. Adenildo, neste livro, traz a voz desta mulher, e dos demais personagens que vivem à margem da sociedade, como protagonistas. A narrativa nos envolve do início ao fim. Maria, enquanto corta cana, sonha em ver pelo menos um dos seus filhos na universidade; sonha, mesmo dentre a pobreza extrema, e acredita que estudar é a única saída para o pobre se livrar de tanto sofrimento. Mas no sítio onde Maria mora não só tem tristeza, também é possível vivenciar contações de histórias em plena noite de luar. Por outro lado, também fica visível a triste realidade brasileira de crianças em plena puberdade trabalhando na roça, no canavial, no carvoeiro. Este é um livro de fôlego, que traz à tona um tema pouco explorado na literatura brasileira, ou seja, o corte de cana na visão de quem vive, isto é, um olhar de dentro para fora, e não ao contrário. Aliás, este livro é tão necessário para a nossa literatura, assim como foi – e é – Vidas Secas de Graciliano Ramos.
Adenildo Lima
Adenildo Lima é natural de Colônia Leopoldina, Alagoas, e reside na cidade de São Paulo desde 1998. Começou a trabalhar no canavial e na roça aos 6 anos de idade. Quando chegou em São Paulo tinha apenas o Ensino Fundamental. Hoje, tem formação em Letras, Especialização em Gestão e Políticas Culturais e Mestrado em Educação. É professor nos ensinos Básico e Superior. Na área literária, tem quatro livros publicados e mais de vinte mil exemplares vendidos. Em 2017 concorreu à Cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL), antes pertencente ao poeta Ferreira Gullar. Também tem alguns poemas publicados na revista Piedra del Molino, na Espanha. Em 2020 foi um dos finalistas no concurso Contos da Quarentena, organizado pela TV Brasil 247, em parceria com a Kotter Editorial. Atualmente, está dedicado à conclusão de um longo poema narrativo baseado na vida do ex-presidente Lula.