Uma escrita entre o fogo e a memória

Em Chão de exílio (2021), a escritora amazônida Wanda Monteiro costura com fios de poesia uma narrativa intensa sobre os traumas vividos durante a ditadura militar no Brasil. O livro atravessa tempos e afetos, misturando lembranças pessoais com a dor coletiva do país que ainda carrega os escombros da repressão.

Embora seja ficcional, a obra traz à tona a ausência do pai, a tentativa da mãe de proteger a filha da verdade violenta, e os ecos históricos que se perpetuam no presente. Monteiro escreve como quem acende vagalumes na escuridão da história — e entrega ao leitor uma escrita que não apenas denuncia, mas também encanta.

  • Obra poética de Wanda Monteiro evoca os horrores da ditadura militar brasileira.

  • A linguagem híbrida entre poesia e prosa confere potência à narrativa.

  • O livro é marcado pela presença da memória afetiva e política.

  • Paralelos são traçados com Fahrenheit 451, de Ray Bradbury.

  • A crítica de Giselle Ribeiro destaca o uso do punctum barthesiano como elemento estruturante da sensibilidade da obra.

Entre a ficção e o testemunho

Miguel, personagem central, é ao mesmo tempo criação e homenagem. Ele carrega traços de Benedicto Monteiro, pai da autora, figura importante da literatura amazônica. É a partir dessa memória transformada em ficção que o livro se desdobra como um álbum de família — não apenas privado, mas coletivo.

Wanda Monteiro faz do gesto literário um ato político: denuncia, expõe, mas também oferece caminhos para que se relembre com beleza aquilo que a barbárie tentou apagar.

A potência do punctum: quando a literatura fere e ilumina

A crítica de Giselle Ribeiro mergulha no conceito de punctum, proposto por Roland Barthes, para explicar o efeito da obra: são feridas que se abrem nas entrelinhas, marcas deixadas pelo tempo e reavivadas pelas palavras. O texto propõe que a dor do exílio e da perda se inscreve na linguagem como forma de resistência — e como reconexão com a ancestralidade.

Poética híbrida: prosa, poesia e denúncia

A autora rompe as fronteiras entre gêneros literários. Sua prosa poética não teme as convenções acadêmicas e navega entre as águas turbulentas da denúncia política e da invenção lírica. As imagens são fortes, sensoriais, ora delicadas, ora dilacerantes. Há um cuidado na escolha de palavras, mas também uma liberdade corajosa — como quem escreve com o punho de uma guerreira.

Diálogo com Bradbury: literatura sob ataque

Em um dos momentos mais potentes do livro, a queima de livros remete diretamente a Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Miguel, homem feito de palavras, assim como os personagens de Bradbury, é perseguido por carregar ideias. A metáfora se concretiza: palavras em fuga, bibliotecas invadidas, memórias silenciadas. Mas também resistência, sobrevivência, legado.

Chão de exílio, de Wanda Monteiro
(Previsão de impressão: primeira quinzena de junho)

16×23
124 págs.
ISBN: 978-65-5361-429-1

R$ 54,70 R$ 38,29

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Wanda Monteiro, escritora, advogada, exerceu por vários anos o cargo de Procuradora Autárquica do Estado do Pará para Assuntos Fundiários, foi Conselheira da OAB/Rio de Janeiro, tendo atuado na Comissão de Direitos Humanos na seccional de Niterói. Foi Presidente da FIA – Fundação da Infância e Juventude, tendo atuado por vários anos em defesa dos direitos de jovens e crianças em situação de fragilidade social e extrema pobreza. Wanda Monteiro é uma amazônida que nasceu à margem esquerda do rio Amazonas e à margem esquerda da vida. Sua terra natal é Alenquer, no oeste do Pará. Wanda Monteiro, escritora e poeta, foi curadora do Sarau Plural/UFF. Atualmente dedica-se exclusivamente à atividade literária, tendo seus textos, poemas e resenhas publicados em dezenas de revistas literárias do Brasil, Portugal, México e Peru.

Suas obras publicadas são: O Beijo da Chuva (2008, Ed. Amazônia); Anverso (2011, Ed. Amazônia); Duas Mulheres Entardecendo (2015, Ed. Tempo – em parceria com a escritora Maria Helena Latinni); Aquatempo (2016, Ed. Literacidade); A Liturgia do Tempo e outros Silêncios (2019, Ed. Patuá); Aquatempo Aquatiempo (2020, Ed. Patuá); Chão de Exílio (2023, Editora AMO), reeditado agora pela Kotter.

A autora participou de duas coletâneas com textos poéticos: Antifascistas: Ato Poético (Ed. Oficina, organizado por Márcia Tiburi e Luis Maffei) e Antifascistas – Contos, crônicas, poemas de resistência (Ed. Mondrongo, organizada por Leonardo Valente e Carol Proner). Publicou ainda as plaquetes Discurso Sobre La Tierra, O corpo esse mar de sangue e Ilha, pela Mirada Janela.

Wanda Monteiro é a escritora homenageada pela Feira do Livro e das Multivozes Panamazônica, a ser realizada em agosto deste ano de 2025, em Belém do Pará.