Em O sonhar da violência, Isaac Castro dá voz a uma figura cuja presença se normalizou com o bolsonarismo: o “pai de família” com ideias de diversão perturbadoras – neste caso, um policial.
O livro se estrutura como um diário macabro, marcado pela naturalização de descrições gráficas, acompanhando o dia a dia desse homem tanto na corporação quanto em sua casa, imerso em um casamento frio.
O desejo reprimido por homens acaba por reacender sua relação com a própria companheira. Uma prostituta também cumpre esse papel de catalisadora emocional.
Uma narrativa que mergulha no cotidiano brutal de um policial obcecado pelo poder
Desejo homoerótico como motor de reaproximações afetivas
Sonhos de destruição refletem a escalada corrupta do protagonista
Conforme o dinheiro sujo entra, fruto de extorsões diversas, o protagonista passa a ter sonhos com um gigante que destrói continentes com poucos passos – possivelmente reflexo de sua própria ascensão escusa.
Hoje enforcamos um homem na viga de concreto. Foi necessário três policiais para erguê-lo. Eu mesmo fiz o nó do enforcado. Nem questionei qual era o crime. Ele se debateu e morreu em apenas alguns segundos. Tudo muito rápido. Ao redor do seu corpo morto as casas cintilavam cheias de luzes. A noite era quente. O cheiro de fritura, urina e esgoto era carregado pelo vento dentro da noite, pelos becos e ruas. Aspirei tudo aquilo como se sorvesse o melhor cheiro do mundo, o cheiro de destruição, o cheiro de nada. Depois de enforcado, retiramos o homem e jogamos em um valão perto de um monturo. Depois atiramos nele e entramos na viatura. As ruas estavam vazias, todos escondidos. Um colega tenente me falou que haveria promoções dentro de alguns dias e meu nome estava na lista. Iria me tornar capitão.
O sonhar da violência, de Isaac Castro
Previsão de impressão: segunda quinzena de julho
16×23
178 págs.
ISBN: em breve
R$ 64,70 R$ 45,29
Disponível por encomenda
Isaac Castro nasceu e vive em Salvador/BA. Pai de Isadora Maria. Autor de O Afogado (Poemas/Contos: 2007); A Vingança (2020); MG42 (2021); Apenas um dia na vida de dois homens maus (2023); Sonhos, Violência, Literatura(2024) – todos pela Kotter.