SENDAS EDIÇÕES
Tatára é um poeta original. Autor de mais de mil canções. Referência para os compositores da cidade por mais de quatro gerações.Além disso, Tatára é um grande incentivador da arte, um criador de espaços e contextos para a produção musical autoral em Curitiba, que mantém, há 50 anos, a mais honorável instituição para o poeta nas metrópoles modernas: o bar. A música é uma arte presencial e o encontro do artista com o público faz parte da sua essência. A reprodução mecânica subtrai o aspecto ritual do encontro e a sua aura. O compositor, que vive a música pelo lado de dentro, necessita do contato com o público para que a mágica de sua arte se realize. É no bar que exercitamos o caráter primordial da canção, como parte de um rito mais antigo, ancestral, em que ela é apresentada em vizinhança a outras canções, numa multiplicidade de vozes e autores desvestidos do narcisismo e do véu protetor do espetáculo. O bar é um ambiente fundamental na usina poética da cidade. É o lugar onde a canção vi-vencia o seu aspecto heroico. João Gilberto Tatára ocupa um lugar de honra na canção curitibana, sendo um de seus principais mentores. E o que dizer dos seus conselhos? Em Todos os Sentidos acessamos o pensamento profundo do genius loci desta produção, do regente da contínua seresta da canção local, onde as individualidades se confrontam e dialogam na produção da arte. Pela sua música, pela sua poesia, por sua presença magnética, generosa e conciliadora. Salve Todos os Sentidos e seu eminente bardo! O ESCUDO DE BRONZE DO TATÁRA “Todos os Sentidos”, de João Gilberto Tatára, é uma reflexão sobre o tempo, a vida, o amor e a arte. O livro reúne textos produzidos nos últimos 15 anos que discorrem sobre o ser humano, as suas contra-dições internas, a projeção que faz de si mesmo sobre o outro e os descaminhos da razão enredada no tumultuado conflito das emoções. Já nas primeiras páginas, o poeta estabelece uma relação dialética com o leitor. Onde as posições se alternam. O leitor ora é o autor, o autor ora é o leitor: “Então o que é que me ilumina na vastidão do teu caminho e me revela meigo no teu abraço?” O tempo é descrito como um vazio que só tem existência quando é preenchido por algo. Deus é o tempo vivido por nós: “Deus é um passageiro sábio que vai em nossa companhia até a estação do tempo que não tem fim, o tempo que não tem vontade própria, que só existe se houver espaço, que só existe se couber dentro de todas as coisas que ainda vamos fazer.” Esse tempo é uma oportunidade única, exclusiva e especial. Precisamos estar atentos por que a saída é um silvo: “Um vento passa, vai embora, pode levar nosso cheiro para sempre.”O caráter afirmativo de sua poesia incita o leitor à atividade e denuncia o pasmar passivo frente ao real. A celebração do encontro, da potência criativa e da presença de quem está ao lado perpassa a obra inteira. Percebam a elegância: “Eu achei teu sorriso, não roubei. Ele é meu, afinal eu o achei”. Tatára é um poeta da vida. Exalta a singularidade do momento, e principalmente, a sensibilidade em relação ao outro. Vão lá ler: “Reflita, mas não deixe aflita a pessoa, antes que ela escoe pelo próprio umbigo”. Qualquer ser intumescido pelo próprio ego que venha conversar com o Tatára é colocado em cheque-mate com suas próprias palavras em menos de cinco minutos. O primeiro inimigo a vencer é a exaltação de si mesmo. Imagine Cristo entrando no templo com o chicote na mão: “Corra, teu espelho está mostrando a maldade bem de frente.”A diferença entre palavra e ato é uma constante em suas reflexões, rememorando antigas lições de retórica, de uma certa desconfiança das ressalvas espontâneas: “Quem disse que não fez por mal não faz por bem também.” Ler Todos os Sentidos é um eletrochoque de mãos dadas com o poeta. Um recarregar de pilhas em direção à criatividade, à poesia e à vida.
Prefácio por
Octavio Camargo
Verão 2019/2020
ISBN: 978-65-80103-82-9
113 pág.
R$ 44,70 R$ 31,29
Disponível por encomenda