“Eu vivi por 17 anos no interior do Paraná. O que, a essas alturas, é quase o mesmo tempo em que vivi na Capital – 15 anos. A cidade que Guilherme Giublin escolheu para situar Microcosmos, sua história policial, tem o cheiro e a textura do lugar de minha infância. Quase uma vila, um espaço de sobrevivência sem muita razão para ser encarado como cidade. Um povoado pequeno, sufocante, ferrenhamente apegado a uma religiosidade anacrônica, algo que te envolve por completo e castra a possibilidade de uma visão mais ampla das coisas. Está tudo neste livro: a instituição da igreja quase como único ponto de referência de todos, a burocracia sonolenta, a corrupção tácita forjada no conhecimento mútuo. Você sabe minha história, eu sei a sua, e seguimos todos amarrados ao que já fizemos, numa espécie de prisão manufaturada no passado, que se perde de vista no futuro. E a terra vermelha que encarde tudo, a parte visível e ilustrativa dessas máculas biográficas. Um símbolo da força indelével dos erros que cometemos. É claro, forasteiros não são bem-vindos. Cidadezinhas do interior são comunidades fechadas. Por isso, a chegada de uma nova policial – ainda por cima, uma mulher – à pequena Lenhame tem o mesmo potencial explosivo à do caubói desconhecido que adentra o único saloon de uma vila no Velho Oeste americano. Nenhum microcosmos está preparado para a entrada de um novo agente. Isso abala as estruturas, movimenta as peças, reconfigura tudo o que você antes acreditava saber. No limite, pode gerar uma espécie de infecção. A pergunta que o autor tenta responder no livro que você agora tem em mãos é: essa infecção é curável?”
Sandoval Matheus
Outono 2020
ISBN: 978-65-80103-91-1
212 pág.
R$ 74,70 R$ 52,29