(por Leonardo Stoppa)
Para falar sobre a questão das crianças voltarem para a escola, é preciso falar como a economia enxerga a mulher em países subdesenvolvidos, como o Brasil.
Logo após a derrubada da Dilma, as igrejas começaram a campanha “Bela, recatada e do lar”. A finalidade era transmitir a ideia que a mulher não deve trabalhar, que esta deve ficar em casa, como questão de honra.
Isso aconteceu porque se as empresas conseguirem mandar a mulher para dentro de casa, elas conseguem uma trabalhadora gratuita. Desta forma, a mulher produz a comida do marido que vai trabalhar, lava o seu uniforme, entre outras tarefas.
No estágio de desenvolvimento que o Brasil estava em 2013 e 2014, muitas empresas já estavam tendo que se responsabilizar pela alimentação e lavagem da roupa dos trabalhadores. Ao conseguirem mudar a política para “bela, recatada e do lar”, as empresas conseguem, em países subdesenvolvidos, uma funcionária gratuita, que nem é percebida como funcionária.
Isto se relaciona com a questão das crianças e das escolas, pois a ideia é que para que as pessoas voltem ao trabalho, é necessário que as escolas voltem a trabalhar. Isso é muito perigoso, pois estamos na reta final da pandemia.
Em poucos meses, a pandemia terá acabado. Na reta final, estamos a ponto de colocar toda a sociedade para enfrentar a doença, apenas porque “não podemos” esperar alguns meses. Esse discurso é muito perigoso.
Na Inglaterra, as esposas dos trabalhadores que manuseavam amianto tiveram câncer no pulmão. Os maridos trabalhavam em uma condição insegura, porém não se sabia disso na época, pois o amianto causa câncer ao longo de décadas.
Então, os maridos levavam as roupas para dentro de casa para serem lavadas. As esposas que lavavam essas roupas com fibra de amianto, também estavam desenvolvendo câncer pulmonar.
Às vezes nem consideramos estes aspectos. Porém no momento em que se define quais atividades devem voltar ou não, começa a se estressar determinadas áreas que vão ser expostas de uma forma ou de outra. Começa-se a girar pessoas, que começam a girar roupas, que começam a girar utensílios, que começam a levar fluídos de um ambiente para o outro, e assim por diante.
A escola só é essencial nesse momento se for pensada como uma forma de tirar as crianças de casa para os pais trabalharem. Ou seja, continua sendo um pensamento que não é voltado à preservação da vida, mas voltado à preservação da economia.
Pessoalmente, se eu tivesse condições de ficar miserável, morando na rua, mas ter o meu pai de volta, eu preferiria a vida do meu pai. Eu poderia morar na rua, sem dinheiro nenhum, porque meu pai vivo me faria muito mais feliz que todo dinheiro nesse mundo.
Porém sei que nem todas as pessoas são assim.
Nada justifica igrejas e escolas voltarem a serem presenciais. Isso porque já existe a vacina para o covid-19.
Antigamente, os negacionistas usavam como desculpa “não saber se algum dia existiria a vacina”. Hoje essa desculpa não existe mais, pois temos a vacina. A questão é: se você esperou um ano, agora você vai mandar seu filho para escola, nos últimos dois ou três meses de pandemia?
Se pressionarmos, com dois ou três meses as pessoas vão estar vacinadas. Vale a pena arriscar tudo nessa reta final? O Brasil está fazendo isso.
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Leonardo Stoppa é analista Político, graduado em Ciências Políticas, Economia, Ciências Contábeis e Pós graduado em Marketing Digital, Jornalismo Político, Engenharia Elétrica. É também Engenheiro Eletrônico (MIET), Engenheiro de Produção, Engenheiro Ambiental e Engenheiro de Segurança do Trabalho (CONFEA 1418043931), Administrador (CRA-MG 01-063714/D), Estuda Bacharelado e Mestrado em Direito.