por Milton Alves
Setembro inicia com a luta política transbordando para ocupação das ruas.
Entre os dias 7 e 12 de setembro, os três principais blocos políticos que disputam os rumos do país farão manifestações: dia 7, os apoiadores de extrema direita do governo Bolsonaro prometem uma manifestação gigante na Paulista; no mesmo dia, partidos de esquerda, frentes e movimentos sociais realizarão a quinta jornada da campanha Fora Bolsonaro no Vale do Anhangabaú, centro velho de São Paulo; dia 12, na Paulista, é a vez da terceira via com os movimentos da direita neoliberal MBL, Vem Pra Rua e tucanos apoiadores da candidatura do governador João Doria.
É a abertura de uma nova fase da luta política em curso, com a radicalização golpista do bolsonarismo e a tentativa de construção de uma terceira via contra o ex-presidente Lula, que lidera as atuais pesquisas eleitorais para a disputa presidencial de 2022.
O fato novo das manifestações deste setembro de 2021 é a convocação da velha direita neoliberal para as ruas depois de 2015-16, quando abriu o caminho para a extrema direita capitalizar o sentimento antipetista e cavalgar na popularidade da farsesca operação Lava Jato — o que facilitou a chegada de Bolsonaro ao governo nas eleições de 2018, com Lula proscrito pelo STF.
O discurso da terceira via neoliberal de “Nem Bolsonaro, nem Lula” é uma tentativa de romper com a polarização política real, objetiva, existente no país desde 2014. Tudo indica que a chamada terceira vai procurar cavar espaço eleitoral batendo duro em Lula, nome que representa a esquerda do espectro político.
A senha já foi dada pelos jornais Financial Times e Folha de São Paulo que nesta semana em editoriais e em longos artigos apontaram o alvo: Lula, “líder populista e corrupto de esquerda”. É o tom usado por Ciro Gomes, que se esforça para ser adotado pela turma endinheirada da Faria Lima — patrocinadora da terceira via. E tudo indica que o nome escolhido para a missão do “nem, nem” é o de João Doria — um tipo almofadinha que usa roupas bem ajustadas e caras.
Nas ruas, sem os bons modos apresentados nos atapetados salões do Congresso ou na redoma de vidraças do Supremo, vale a força da mobilização popular, a capacidade de reunir gente, a bronca das palavras de ordem e também o imponderável. Ou seja, é um momento de medição de forças.
A extrema direita bolsonarista promete um dia de São Bartolomeu golpista no sete de setembro, a esquerda vai trupicando até o Anhangabaú na morna campanha pelo Fora Bolsonaro e a velha direita aposta em reanimar as suas forças no dia 12, alugando a tropa de “choque-cheque” da rapaziada do MBL.
Nos últimos meses, a supremacia nas ruas foi aquecida por uma disputa intermitente entre a esquerda, que abandonou o fique em casa no final de maio, e o bolsonarismo — com cores cada vez mais neofascistas. Agora, chega um novo ator, a velha direita neoliberal –, comandada pelo PSDB.
O calendário eleitoral de 2022 é um fator de pressão sobre os atores políticos que partem para uma disputa em todos os terrenos — nas ruas, imprensa, redes e nas instituições parlamentares e tribunais.
O país afunda com aplicação da agenda da boiada neoliberal — executada pelo governo Bolsonaro e apoiada pelos partidos da velha direita neoliberal –, ambos blocos políticos são os responsáveis pela crise sem precedentes, que jogou milhões de brasileiros no desemprego, na fome, no descaso na pandemia e penúria.
Uma saída política pela esquerda da crise somente virá da mobilização popular, sobretudo da população trabalhadora. A nova jornada do 7S será mais um momento de combate da frente única pelo Fora Bolsonaro e contra as tramas urdidas pela velha direita.