A borboleta azul entra pelos ouvidos e narinas do vivente e enche de cores o que pálido está nas paredes e vulcões da cidade, sob o sol vibrante de janeiro.
O sol não me cansa.
Quem quiser frio, que vá para o Polo Norte!
Eu quero o sol do deserto, do sertão, sob o signo escaldante dos janeiros.
Um golinho de nada, e lá vamos nós.
O golfinho transcendental na cintura da moça, o umbigo sublime da companheira e o impossível que flameja na poesia que acorda o dia e invade a crônica.
Quero mais um Dry Martini e os caminhos da Gin Tônica a anunciar que o ano começou, o espocar das champanhes e a espuma das cervejas.
Quero alumbramentos. Arco-íris psicodélico das sensações.
Hermeto Pascoal, com o seu cérebro magnético, toca no YouTube enquanto escrevo. *Frevo Alagoano*. Djavan resolveu passar pelo pensamento. Ah, Maceió, logo voltaremos para o seu marulhar sereno.
A borboleta azul quer encontrar a borboleta amarela do bairro do Braga. Quer tentar uma revoada das coloridas em jardins multicores.
A psicodelia dos olhos livres perscruta as esquinas. Cores pálidas do centro, esquimós. Curitiba fez sol, e acordo bem para escrever esta crônica ensolarada, enquanto Ivo e a banda Blindagem cantam: “Certas luas, dias incertos”.
Janeiros me lembram a liberdade dos recessos, das férias, a liberdade para a existência: fazer o que quer, viver o que quer, não ser escravo das horas nem dos sistemas.
Comidas e aromas, banho de mar.
Dezembrino passou. Januária está aqui, na janela dos novos bons sabores.
Horizontes voláteis e tudo que for bom virá: “Impávido que nem Muhammad Ali”, e no “Trem das Cores”, do mestre Caetano, para o infinito de nós mesmos.
A borboleta azul passeia pelo cérebro, derrete estalactites, pinta o sonho e os dias.
Que venha, com luz, o impossível em girassóis vangoghianos.
A estival, quem vem? Mar?
Luzes e sombras sobre o teclado do velho PC.
Nestes sóis de janeiro, o ano começa em conta-gotas.
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Fabio Santiago nasceu em Maceió (AL), em 1973, e está radicado em Curitiba (PR). Publicou os livros A marca do vampiro (compre aqui, 2023), Cantos temporais e Mar de sombras, ambos em 2022, Versos magros (2021) e Intramuros (2020). É formado em Comunicação Social e criador do blog Acre infuso, ativo desde 2004. Redes sociais: @fsantiago006 (Instagram) e Fabio Santiagoc (Facebook)