Lendo seus poemas me veio um turbilhão de pecados que antes de se aflorarem no desbunde das noites (ou dia?), se revigoram no coração do cavaleiro solitário. Essa figura que bebe o lírico para vomitar o caos do horizonte, um jogo de perdas e consolos que apenas o cobertor, a caixa de pizza ou mesmo a tatuagem podem nos atravessar. Se Oswald nos pita “amor/ humor”, aqui nós temos “amor/tumor”, com ressonâncias de uma certa senhora d (Hilda) travestida de m, com o presságio & peregrinação de um Piva, ou mesmo as hipnóticas e cavernosas intimidades de uma Clarice ou Szymborska. Somos o andrógino de Oswald pois continuamos “audaciosos” no bário e passado, na delicadeza do tapa, olhar perdido para quem sabe que pode surgir um outro nascimento pela manhã. A vida é uma viagem, são lugares, mas também a minha orquídea repleta de fungos e tétano. Seremos um ao outro complacentes de uma mesma vagabundagem? Mal sabíamos que o nosso maior veneno é respirar.
Hoje em dia sou bronco com muitas poesias que não me dão o que mais me arreia: a pulsão. E nos poemas do Raul ela está eletrificada, tomando no pé da letra (ou no bicho-de-pé) da convulsão do grande Octávio Paz: subversão poética é subversão corporal, ou melhor, como Breton: poesia se faz na cama (mesmo que esteja mijada).
Raul K. Souza
Raul K. Souza é natural de Curitiba, com formação em Filosofia, largou uma especialização em Direitos Humanos para andar de bicicleta e depois também largou a bicicleta.
Atua como Editor-executivo na Kotter Editorial. Escreveu o Zine independente Astronautas pedem uma pizza e dois pathos com gelo (2017), produzido junto de Francieli Cunico e de Antonio Lopes. Muito crítico, pois virginiano.
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