SENDAS
A muletada que mudou a história
Por Mário Magalhães*
Paulo Fabião, humorista talentoso, sabe fazer rir. Como os melhores humoristas, ele também faz pensar. Esta é uma história que o leitor lê de um fôlego só, capturado pelo enredo criativo e engenhoso. É ainda provocação necessária e urgente: como considerar natural uma sociedade perversa e segregacionista?
Imagine um sujeito torpe. Mais torpe do que o sujeito que você imaginou é o protagonista de O incluído, o bem-sucedido publicitário Pedro Caetano Dias. Ele é o dono da agência batizada com as suas iniciais, a PCD. Que são, da mesma forma, as iniciais da expressão Pessoa Com Deficiência.
Pedro odeia, persegue e julga inferiores as pessoas com deficiência. Seu comportamento, de tão sádico, permite suspeitar de um mistério _sim, existe um segredo. Há um incômodo suplementar nas maldades do personagem: elas expressam, sem dissimulações, preconceitos largamente cultivados e praticados no Brasil e noutros lugares.
Sua vida muda quando ele xinga um homem de pernas atrofiadas, recebe em troca um golpe de muleta na cabeça, permanece cinco anos desacordado e desperta em novo mundo. Por causa de uma bactéria, 70% da população planetária se tornou cadeirante, 25% passou a ter outro tipo de deficiência, e 5% é andante.
Como andante, Pedro viverá como minoria. Será alvo de paternalismos cretinos e vilezas como aquelas em que era versado. Descobrirá que emergiu na política um certo “Campanaro”, arauto do slogan “Andante bom é andante morto”.
Para saber se Pedro aprenderá alguma coisa da nova realidade, é só mergulhar no livro de Paulo Fabião, com suas histórias e surpresas do mundo marcado pela exclusão.
*Mário Magalhães é jornalista e escritor.
Primavera 2020
ISBN: 978-65-86526-78-3
104 pág.
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