Por Quem os Ipês Sofrem – Denise Mazocco
O tema da memória prevalece em vários contos de Por quem os ipês sofrem. A memória da infância, a memória das vivências, a memória construída, a memória das coisas, porque também as coisas podem ser passíveis de memórias, talvez pela longa convivência com humanos, pegaram esse “mal costume”. Da profunda sensibilidade em perceber os sofrimentos, até dos ipês, a autora vai tecendo e tocando o além da superfície das pessoas, desdobrando seus sentimentos mais caros, suas solidões mais profundas, seus pecados cotidianos, suas memórias perturbadoras. O espaço é o urbano: ruas, moradias, escritórios, hospitais, praças. O olhar do narrador, no entanto, desvia-nos para as flores, para os ipês floridos, insistindo em trazer algum alento aos tristes seres humanos. Ainda, há lugar para o inusitado, como em Drosophila melanogaster, O contador de gramas e Catador, revelando um universo kafkiano de firme domínio. Beleza, sensibilidade, transgressão, solidão, absurdo, ansiedade. Ansiedades que desencadeiam imagens do belo, mesmo que o das flores esmagadas. Por quem sofrem os ipês, afinal? Como nos ensinou Hemingway, eles sofrem por nós.
Edna Polese
Denise Mazocco
Denise Miotto Mazocco possui graduação em Letras e História. Recentemente, concluiu o doutorado em Estudos Linguísticos (UFPR), desenvolvendo pesquisa sobre tempo e Aquisição de Linguagem. A publicação de textos literários começou aos poucos, com o blog prosadomingueira.wordpress.com
Avaliações
Não há avaliações ainda.