O que te aguarda depois da entrada é um único e longo poema no qual o autor inscreve sua visão em grande angular da terra devastada. Seu bilhete nervoso deixado na geladeira do mundo. (…) Eis uma canção desesperada que ao cantar estes “martírios de beleza” acaba deixando um gosto de impressão contrária que de resto é o próprio nome do livro. Há aqui, nesta ode mundana, um brinde à vida; uma espécie de grito de socorro no estômago revirado de cada imagem violenta. Um grito contra a mediocridade: “a barbárie engorda no teu medo feito rato de laboratório.
da orelha da primeira edição
Sempre vou ter a sensação de estar dançando frevo em cima de cacos de vidro toda vez que ler um poema ou um livro de Luiz Felipe Leprevost. É uma dança que faz sangrar. Que captura com o ritmo, provoca euforia, e quando você menos espera sangra, dói. Mesmo doendo, o ritmo te conduz a continuar, a rasgar a planta do pé, pois é um instante entre o êxtase que leva ao giro empunhando a sombrinha colorida e a dor que penetra o teu pilar, o teu pé. (…) A linguagem vertiginosa de Luiz Felipe é única, e nos leva para dentro do furacão. (…) Os livros de Luiz Felipe Leprevost são peças teatrais, enredos poéticos que podemos seguir como um vídeo clipe.
Verão/2006
É como se baixasse uma febre daquelas de mais de 40 graus. Quase coma, quase transe. Versos em camadas, em um desabafo dialético, dramático, pungido. Não se tem a certeza se ele está xingando ou chamando para perto. Há uma vizinhança com o fluxo de consciência de Jorge de Lima em Invenção de Orfeu. Invoca à lama para se completar. Percebe-se uma incontinência da fala, uma intenção selvagem de se misturar ao espesso imundo. Impõe-se uma geologia da raiva em cada ruga. Contesta os hábitos, mas faz da insubmissão uma rotina. Porta-se como um Jó adolescente, praguejando o mundo que não o deixa espaço.
Primavera 2020
ISBN: 978-65-86526-58-5
110 pág.
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R$ 44,70 R$ 31,29
Ode Mundana, revista e ampliada – Luiz Felipe Leprevost
O termo ‘Mundana’ aqui se move mais na direção de sua raiz latina do que ao uso corrente que fazemos das derivações dela. É uma ODE DO MUNDO ou AO MUNDO e abre com uma epígrafe de Leopoldo Panero com a qual vamos dialogar em espelho aqui através de outra: “el bisturi em la frente para ver” esse é um livro escrito com o bisturi na testa para poder ver. Conversa visceralmente com os manifestos de Jello Biafra da banda Dead Kennedys e com as canções primais de Redson da banda Cólera, com as canções dos dois primeiros discos da banda Nirvana e também com os dez discos iniciais de Rogério Skylab. Leprevost estabelece uma espécie de conversa com as parcas e as fúrias que estão fumando maconha dentro de um quadro de Bosch, a fumaça escreve algo melhor do que este posfácio, convido todos e todas a contemplarem o nó que ela faz significando vida. Uma fúria soprou estes poemas para ele.
É praticamente impossível dissociar o corpo da voz escrita, um urso que engole fogo e depois come orquídeas escreveu esse livro. Como o mundo dentro do título do livro, este posfácio acabou e ainda assim continua. Alguns poemas aqui parecem conversar com outros poemas dentro deles, como uma mãe conversa com o filho no ventre, não será difícil para o leitor-leitora pressentir o poema dentro do poema é como se o autor desejasse que vocês roubassem o poema interior dentro do poema escrito. E a cada vez que alguém-alguma vomitasse a palavra ‘mito’ poderíamos responder: “o vento morteiro/ o império dos bueiros” ou “e esses pratos de pacto de sangue da política/ custam no mínimo os olhos da cara”.
Este livro é também a transfiguração do jovem que o escreveu no homem delicado e perigosíssimo que soube converter sua tristeza e cansaço em energia da recusa e através dela, estes poemas respiram seu próprio hálito no meio da rua.
Marcelo Ariel
Luiz Felipe Leprevost
Luiz Felipe Leprevost nasceu em 1979, Curitiba – PR. Publicou os livros de poemas Tudo urge no meus estar tranquilo (Encrenca, 2017), Uma resposta difícil (Arte & Letra, 2019) e O poeta queima voluntariamente (Arte & Letra, 2020). Os romances Dias Nublados (Arte & Letra, 2015) e E se contorce igual a um dragãozinho ferido (Arte & Letra, 2011). Também os contos de Inverno dentro dos tímpanos (Kafka Edições, 2008) e Salvar os pássaros (Encrenca, 2013), entre outros.
foto: João Debs