Embora vinte e cinco séculos nos separem dos Diálogos, ainda os lemos movidos pelo interesse de compreender nossas origens, pensar sobre os problemas de nossa época, refletir sobre nossas próprias condições de existência e visões de mundo. A história do comentário platônico, sobretudo nos últimos séculos, tem tratado os Diálogos a ponto de ser possível lê-los “filosoficamente” sem precisar fazê-lo “literariamente”, e vice-versa. É como se tivéssemos o “Platão das letras clássicas”, que terá seus Diálogos analisados enquanto casos possíveis de um gênero literário a ser reconstituído, e o “Platão da filosofia”, cujos leitores, despreocupados com a forma dialogada e os recursos literários, isolarão ali os argumentos que pretendem analisar, para avaliar sua validade, observar suas relações com filosofias posteriores e, eventualmente, torná-los parte de um portentoso sistema explicativo da realidade.
Nosso autor alinha-se àqueles que se recusam a aceitar uma qualquer dissociação entre o filosófico e o literário no interior dos Diálogos platônicos. Mais do que isso: de forma ousada, propõe, como se depreende já do título de seu livro, que a elaboração dos Diálogos platônicos só poderá ser bem compreendida, se neles mesmos, em sua letra, descobrirmos a “poética da mímesis” que os origina. Assim, Nelson apresenta uma solução à contradição que expõe como apenas aparente, num sentido ao mesmo tempo surpreendente e instigante, pois não pretende simplesmente encontrar uma função para a mímesis que possa ser conciliada com os conteúdos dos Diálogos: trata-se de afirmar que a mímesis é condição de possibilidade dos mesmos. Aquilo que a muitos intérpretes apresenta-se como um obstáculo a ser transposto, neste estudo ganha o estatuto de conceito fundamental. Eis como, para Nelson, o conteúdo dos Diálogos e sua estruturação proporcionam resposta à pergunta cada vez mais formulada: por que Platão escreveu Diálogos? O livro coloca-nos, desse modo, perante uma possibilidade de compreensão e de resposta a uma das mais provocadoras questões filosóficas, a da relação entre o pensamento e a discursividade.
Roberto Bolzani Filho
Primavera 2021
ISBN: 978-65-86526-71-4
432 pág.
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A poética da mímesis e a composição dos diálogos platônicos – uma introdução à leitura dos diálogos de Platão
A influência exercida pelos Diálogos de Platão sobre a cultura ocidental dificilmente poderia ser superestimada. De fato, embora vinte e cinco séculos deles nos separem, ainda os lemos movidos pelo interesse de compreender nossas origens, pensar sobre os problemas de nossa época, refletir sobre nossas próprias condições de existência e visões de mundo. Adentrar seu universo complexo e instigante de temas, conceitos, argumentos, mitos e imagens permanece sendo uma forma de investigar a realidade em seu sentido mais profundo, em suas dimensões cósmica e humana. Neles se encontram os fundamentos de uma série de disciplinas que moldaram nossa forma de pensar: física, metafísica, ontologia, lógica, ética, política, psicologia, estética, filosofia da linguagem, todas elas, de formas bastante distintas, ainda presentes em nossas vidas como áreas de saber, cultivadas, sobretudo, nas Universidades […]
Roberto Bolzani Filho (USP)
Nelson de A. M. Neto
é doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atua como professor no Colégio de Aplicação desta mesma instituição. Desenvolve suas pesquisas nas áreas de Filosofia Antiga e de Ensino de Filosofia, com ênfase no tratamento de problemas relativos à produção e à recepção do discurso filosófico.