“Ao tratar da mimese, Platão afirma que há duas formas de arte: a arte ‘eicástica’, baseada na imitação fiel da realidade, e a arte ‘fantástica’, que se afasta do real ao criar um simulacro que induz ao engano. O interessante é notar que o filósofo grego atribui o termo phantasma à noção de simulacro, tornando as duas palavras correspondentes. Talvez por isso, nas narrativas sobre fantasmas quase sempre haja a dúvida sobre se aquilo que o personagem vê é real ou não – porque o fantasma (o simulacro) torna indefinidos os limites que separam ficção e realidade.
Os contos reunidos neste “divindades solitárias” são, todos eles, habitados por fantasmas, simulacros e simulações. Trata-se de um livro assombrado em certo sentido: há que se ter coragem para ir aos poucos encarando seus espelhos e corredores vazios (ou não tão vazios assim). Da cotidianidade de uma ida ao dentista à violência de uma sangria noturna; de Rubens (que no conto ‘O engodo de Laura’ surge “nitidamente como um fantasma de carne e osso”) aos diversos nomes adotados por Euclides em ‘O quadro em branco’; da tensão familiar durante uma visita de Sexta-Feira Santa aos estranhos eventos promovidos por Exu em um terreiro – tudo são simulacros. Tudo parece minar as diferenças entre o real e o irreal.
Há o simulacro de Hilda Hilst em Victor Hugo e seu dilema. Há o fantasma de Borges, que se estende como uma sombra nos três primeiros contos do livro. Aliás, o próprio Borges certa vez escreveu que “cada escritor cria seus precursores” – é adequado manter a afirmação borgeana em mente. Talvez ela nos livre de alguns fantasmas. Ou desperte vários outros da pena de Chamorro. “
Nicolas F. Neves
Graduado em Letras Português/Inglês e suas Literaturas
Membro do grupo de pesquisa “Estudos Oitocentistas”
Universidade Federal de São Carlos
Outono 2021
152 páginas
ISBN: 978-65-89624-46-2
R$ 59,70 R$ 41,79
Entregue-se a este livro sem pré-conceitos, sem amarras. Haverá momentos de espanto, ter-nura e estranhamento neste caleidoscópio que revela novas imagens a cada leitura. Entregue-se a elas, feito criança fascinada pelos vidrinhos coloridos que nunca trazem a mesma impressão.Com os pés fincados na tradição de íco-nes como Lygia Fagundes Telles e Jorge Luís Borges, este livro de contos, que marca a estreia de Andreas Chamorro no gênero, vai muito além das referências e revela um jovem escritor car-regando um universo de histórias. E agora que temos a chance de vislumbrar esse universo, não, não há como resistir. Entregue-se.
Giselle Bohn, autora de Pele Velha
Andreas Chamorro
Andreas Chamorro é paulistano, nascido em 1994 e atua como tradutor e professor de língua inglesa. Leitor assíduo desde a infância, vem experimentando a tecelagem de realidades que é escrever ficção desde a adolescência, até decidir estre-ar com a presente obra. No momento presente, Andreas Chamorro mantém uma página na pla-taforma Medium onde publica artigos, ensaios e ficção, simultaneamente, usa seu perfil do Instagram para compartilhar ou-tros textos e poesia.