Bolsonaro briga para ganhar tempo e sobreviver até 2022

Por Milton Alves

O presidente Jair Bolsonaro enfrenta um inimigo oculto, irrecusável: o tempo. Ele precisa atravessar os próximos meses, sem acumular mais perdas, e garantir, pelo menos, o apoio sólido de sua base mais fiel, que oscila em torno de 25% do eleitorado, segundo as diversas sondagens eleitorais.

Nas últimas semanas, o esforço político de Bolsonaro tem como eixo principal um ataque concentrado contra as instituições da República – desgastadas e erráticas -, o Supremo Tribunal Federal [STF], o Tribunal Superior Eleitoral [TSE] e, de vez em quando, o próprio Congresso Nacional, onde ele assegurou um número suficiente de parlamentares para segurar qualquer tentativa de impeachment — uma apólice de seguro que tem custado caro para as finanças públicas.

O fogo de barragem promovido pelas tropas virtuais do bolsonarismo opera na direção de manter a chama acesa, aquecendo o debate político contra os ministros do Supremo, governadores e dos senadores que pilotam a CPI da Covid. O mantra para mobilizar a base bolsonarista continua o mesmo: O presidente quer governar, “mas eles não deixam”. O truque ainda funciona, apesar de demonstrar sinais de fadiga.

Os apelos golpistas do presidente assumiram uma tonalidade mais agressiva durante a última semana com um duplo objetivo: mobilizar a base favorável ao governo e intimidar as autoridades da República. Vai que cola transformar o sete de setembro numa espécie de dia-noite de São Bartolomeu, exterminando o que resta das frágeis garantias democráticas — combalidas após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e pela nefasta Operação Lava Jato.

A guerra na superestrutura política e institucional funciona ainda como uma imensa cortina de fumaça para esconder a catástrofe em curso no país. Enquanto os podres poderes se esbarram, a pandemia mata, o desemprego cresce, a fome avança e a boiada no Congresso segue privatizando e cortando direitos sociais. Uma agenda programada de genocídio social e de recolonização neoliberal do Brasil –, que conta com o apoio em bloco do andar de cima.

Se é verdade que Jair Bolsonaro é o epicentro da crise, e personifica a própria dinâmica da crise. Também é verdade que as oposições de direita e de esquerda, por motivos diferentes, não travam um combate decisivo para derrubá-lo agora. A primeira, por ter acordo e ganhar muito dinheiro com a execução da agenda do ministro Paulo Guedes. A segunda, por confiar na política de desgaste continuado de Bolsonaro e aguardar o calendário eleitoral.

A opção de Bolsonaro é clara: pressionado pelas crescentes dificuldades, ele procura ganhar tempo na espera de dias melhores na economia, com a redução dos efeitos da crise sanitária. Além disso, o governo da extrema direita projeta algumas medidas tópicas para agradar setores da população mais pobre, como um novo programa derivado do Bolsa Família.

Uma saída democrática e progressista da crise, que supere a corrida contra o tempo de Bolsonaro e também a da suposta terceira via, demanda a continuidade e a ampliação da mobilização popular. Afinal, diz o bordão de uma música de protesto muito cantada pela geração 68: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

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