Dizem que banho de chuva, no primeiro dia do ano, traz sorte, abre os caminhos. Sigo desviando das poças, persigo marquises.
Quando chove, a primeira coisa que surge na cabeça é a sequência inicial de Rashomon (1950), filme de Akira Kurosawa, não há temporal mais lindo e poético do que o desta fita, para estes velhos olhos gastos.
Binho Maturano, disse para andar com sal grosso no bolso, também me falou que pé-d’água inesquecível para ele está no livro, Doze Contos Peregrinos, em Maria dos Prazeres, do mestre Gabriel García Márquez.
Guilherme Tristão, recomendou a chuvarada de Luz Silenciosa, fita de Carlos Reygadas, Disse que estou trilhando nuvens escorridas em celuloide. Dois grandes amigos, um Rio de Janeiro.
Charlie Brown da turma do Snoopy está sozinho na base, querendo jogo, pronto para rebater a bola, num temporal danado, largado por todos. – Que puxa!
Guardo a chuva, esqueço a poesia das águas de março e fico aflito com as perdas, muitos tem sofrido com tormentas este ano, perdem-se vidas, tetos e bens.
As enxurradas trouxeram enchentes, deslizamentos, muita dor, tristeza e desabrigados.
Quando chove acendo o lampião e vou, carrego Maria Bonita, Corisco louro e Dadá! Dadaístas vamos as pistas! Cachoeiras semanais!
Quantos enigmas guardamos, estamos dentro da chuva, no meio da tempestade
Se levassem para o esgoto, este desgoverno que assola a nação, quem sabe, voltaríamos a ter esperança.
Gostaria de assistir o verme, sua equipe, suas bancadas, seus séquitos, seus apoiadores, todos lançados num vendaval para o limbo da história, via o esgoto.
A primavera voltará! Cantaremos muito!
“Vou pra rua e bebo tempestade”, Chicoooooo!
Sei que o aguaceiro logo passará!
Precisamos estar atentos e fortes.
A estrela brilhará mais uma vez em nosso céu molhado.
Ligo para o amigo Ayrton Baptista Jr, em Curitiba, digo que estamos no meio da tempestade. Ele me fala que estamos com Fernanda Montenegro, na chuvarada de A Falecida, fita de Leon Hirszman, giramos nos movimentos de câmera de Dib Lutfi, o mestre Dib sabia de tudo!
Sim estamos girando!
Charlie Brown, aquele do snoopy, meu alter ego, continua parado na base, no meio da tempestade – Que puxa!
A chuva, nesta tarde, é música melancólica para o que escrevo, derrama seus contornos e suas lágrimas.
Lampião acende a mata, Maria Bonita bordada em flor.
Respostas de 2
Belíssimo mas triste retrato de nosso povo desvalido, parado, sem teto, sem nada, no meio desse temporal !
Caro poeta e prosador Fábio Santiago, que preciosidade se texto! E quantas referências importantes, dando aos seus privilegiados leitores uma aula completa de cinema. A poesia presente em sua prosa , um casamento harmonico, trazendo beleza, memória, denúncia, conscientização e esperança. Parabéns! Obrigada por nos presentear com tão bela escrita. Um abraço