A poesia de Andreev Veiga navega por uma suave perturbação, pelo afogamento da esperança, pelas ruinas de um apartamento onde um homem velho, sob os escombros da realidade, ouve música. São instantâneos fotográficos de lugares que, mais que lugares, representam espaços do espírito, interioridades que tomam corpo no mundo e neste outro corpo: o poema. Porque isto é – o próprio autor o disse – a repetição de outra coisa que acontece, ou talvez, “uma tentativa de escrever/ um momento que não fosse obscuro”. O poema é sempre uma tentativa, uma outra coisa, e é o lugar – o único possível – quando não temos aonde ir.
Víctor Sosa
visto do alto da torre
conheço poetas arrogantes
alguns que querem ser famosos
e outros exilados em suas torres
penso na vergonha que sinto em mostrar meus versos
um poema pode arruinar um homem
leio todos
até faço dedicatórias
mas tem certas horas que fica impossível
conviver com eles
o café, a bebida na esquina
a paciência para esperá-los
prefiro tê-los como poetas
a esperar que a noite invada com sua náusea
outros tão bons em suas possibilidades
como um palácio vazio
Primavera 2019
ISBN: 978-65-80103-51-5
99 pág.
R$ 39,70 R$ 27,79
Andreev Veiga
Andreev Veiga nasceu em Belém em 1981. É poeta. Recebeu o Prêmio Bolsa Funarte de Criação Literária, 2012, com o projeto Insular Palavras. Foi contemplado com a Bolsa de Criação e Experimentação Artística, IAP, 2013, com o projeto Entre Portas – passagens da memória. Realizou as videoartes Antes que chegue (2014), Por uma razão (2015), Onde a cinza destila (2015), A espera (2015), Liturgias (2018) e Ballet (2018). É autor de diálogonuvem (FCP, 2016).