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Depois de Peito aberto até a garganta , Mariana Marino publica este não sei quem colocará as mãos em mim, seguindo a trilha forte e bela de sua poesia profundamente atual e engajada. Mariana traz a marca de acontecimentos vitais que pontuam sua vida e escolhas, muitas vezes atravessadas pela dor de um corpo que se refaz pleno, e se refaz na medida em que avança sublime na forma de versos. E dessa sua experiência retira a força de versos delicados, e por serem assim delicados, pulsam como um coração rítmico e solar. Como no poema Teresa: O barrado do vestido /os pontos de luz entre os fios do tecido / dedilhados com importância de arte sacra / são de Teresa/ das mãos de Teresa / que experimentaram pouca delícia/ ou passeios / por outras mãos ou tecidos./ Assim segue Mariana Marino, pulsando entre pontos de luz, poros e mãos, as mãos dela e as de seu generoso olhar para com o mundo.
Jussara Salazar
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Pessoas costumam ter um polegar opositor. Chimpanzés, gorilas e lêmures também seguram a existência com esta artimanha oposta e articulada. Temos o privilégio de conseguir dobrar o dedinho mínimo sobre a palma da mão para tocar a pinça de ossos. Agarramos coisas que nos aparecem e seguramos bem forte ou delicadamente, ora estrangulando mundos, ora afagando planetários. Soltamos rapidamente quando ameaçadas. Mas ao agarrarmos ou abandonarmos, somos também amparadas ou libertas. Criamos pontes magnéticas com o objeto e com o coração que tocamos, bem como quando os deixamos órfãos de nossas mãos.
Não sei quem colocará as mãos em você ao folhear as páginas deste livro que nos oferta extremidades de diversas falanges – insetos, ancestrais, afetos, escritoras. São convites para nos aproximar ou acenam despedidas?
Dissecará, guiada por atlas anatômico, as sulcadas linhas das palmas que nos surgem de dentro dos poemas dedilhados? Interpretará, tal quiromante que mais adivinha o futuro pelo toque do que por alguma magia divinatória, o calor ou a frieza das mãos calejadas que a poeta descreve? Segurará afetuosamente algum nome de pai, de mãe, de avós ou amizades, que surgem como holograma pelos versos bem costurados com a bagagem da memória? Soltará a mão que confessa pequenos extermínios por legítima defesa nos recortes confessionais da rotina esmagadora? Enxergará mãos parecidas com as que embalaram seu berço, curaram suas feridas ou que estapearam as suas para corrigir sua postura frente aos desesperos?
Não sei como colocará as mãos nestes poemas, mas sei que gostará de se deixar conduzir pela veracidade com que a poeta estende seus pulsos nas narrativas manuscritas, melódicas porque nos apontam biografias tão familiares, dolorosas porque nos representam enquanto animais fragilizados diante das doenças, das despedidas e das carências.
As mãos de Mariana encenam o que o olho vê. São garras, são patas, são pergaminhos, são instrumentos musicais incorporados pelas estrofes?
Ao tocar, saberá. As mãos da poeta estão aqui, abertas.
Andréia Carvalho Gavita
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ISBN: 978-65-5361-112-2
92 páginas
Formato: 15X21 cm
R$ 39,70 R$ 27,79
Mariana Marino vive em Curitiba, mas nasceu no interior de São Paulo. Atualmente é doutoranda no programa de pós-graduação em Letras da UFPR, investigando a produção contemporânea de poetas brasileiras a partir dos instrumentos de visualização da crítica literária ecológica e sua “viagem” ao Sul global. Como poeta, já teve trabalhos publicados pela Zunái, Posfácio, Literatura e Fechadura, Totem e Pagu e Arvoressências. Faz parte da grupa Membrana, interessada na criação de uma rede afetiva, crítica e colaborativa entre pessoas que escrevem. Seu primeiro livro de poesia, Peito Aberto até a Garganta, saiu em 2020 pela Editora Urutau.