Onde está o poder de se sentir bem no próprio corpo e na própria alma? Revestir-se de uma armadura cognitiva talvez seja a melhor forma de reconhecer-se. O poder está em ter a atitude de afirmar seu lugar no mundo. Seus distúrbios, seus medos, sua vulnerabilidade podem ser belos. É lindo aquele que não se envergonha de apresentar suas aranhas. A aranha, sendo um símbolo para o seu lado mais sinistro, mais indesejado, mais estranho. Apaixonei-me por uma poética mais visceral. Uma linguagem dissecada. Dissecando o que há de mais obscuro. Acredito também que Deus habita esses lugares escuros. Há um lugar para pessoas como eu, que não seguem a cartilha do que é considerado normal? Certa vez, uma taróloga me disse que o meu maior problema era o fato de querer ser uma pessoa normal. Coisa que, hoje, sei não ter nascido para ser. Temos que nos sentir bem com os nossos lados mais selvagens. Devemos atualizar a palavra normal, para que ela não nos divida mais. O normal há de estar assimilado na aceitação das diferenças de cada um. Amar todos os seres, sim. Amar com aquele amor de quem se vê parte de um todo. Maior do que todas as diferenças e peculiaridades. Quer adentrar o meu jardim? Ele é forte e colosso. O artista é aquele que enfrenta a morte e não teme o seu fim. A criação, o ato de criar, está relacionada com o renascimento. Renascimento esse que colore a vida daqueles que, pela arte, vivem morrendo a cada segundo. Adentre, sem medo, esse jardim. E faça com que ele não fique esquecido. Cultive-o como se fosse a sua própria vida. Distúrbios pintarão o seu mundo com a graça que só os corações sepulcrais possuem. Morrendo em cima das santas construções. Em cima dos firmamentos… Como um anjo que reivindica suas asas para assumir sua verdadeira aparência… Que mundo doido…
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O jardim de rosas na alameda das fossas, de João Pires da Gama
86 páginas
Formato: 16×23
ISBN: 978-65-5361-161-0
R$ 44,70 R$ 31,29
Nascido em Brasília. Cria do Rio. Bares escuros. Espaços ermos. Desencantado. Desencontrado… Um improvável. Tentando viver para a poesia. Sempre à margem da normatividade. Criando castelos cognitivos. Misturando mentiras com verdades. Filho de Clarice. Resistindo a ser compreendido, só amado. Morando em mim, uma redoma de vidro. Me vendo nos contrários. Retirando da estante o meu coração selvagem e deixando à venda, para a posteridade. Ser a oração do tempo a desvendar os mistérios da criação. Voando, voando sobre o jardim das esquecidas e equivocadas potestades.