Nesta obra, a autora, de notória habilidade, constrói uma narrativa que une seres sobrenaturais e aprisiona tão fácil quanto a fragrância da Mulher atraente, motivo de embaraço até para os mais íntegros senhores da sociedade. Ímpar, todavia, é a peculiar maneira de fazer rir a quem envereda por suas linhas, ora cutucando uma série de preconceitos, ora fazendo um exercício intertextual com uma realidade sociopolítica perversa, em se tratando do não respeito a elementos referentes ao tradicional. Por isso, em ambientes de requinte, metropolitanos, as humilhantes sanções, das quais meu velho, de quem fiz bússola, procurou, na molequice inteira, manter-me protegido.
Cabe, pois, a vós, leitores, o privilégio de transitar, sem medo, fazer deste livro um rio-mar, conforme o barco de cada um. Quanto a mim, resta-me encolher as velas… Boa leitura!
(Ailton Favacho)
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Por alguns minutos as luzes se apagaram. Ao som de “Ao pôr do sol” de Teddy Max, as cortinas se abriram. Estreara em Brasília, O Pretinho da Bacabeira e Mulher Cheirosa, dirigida e encenada por M.B, que é o maior ator da ilha do Marajó. A companhia de teatro casa da bacabeira, antes de se abicorar no apartamento 113 e tomar conta da bagaça, bem que tentou convencer Constantino Fernandes, dono do teatro em Brasília, sobre a veracidade das estórias, mas ele não botou fé! “São apenas lendas”, disse, num tom provocativo. Achou que era tudo potoca, essas coisas de Pretinho da Bacabeira, Miguelão, Matinta Perêra, Mulher Cheirosa, Porca gigante, etc.… Só que M.B, Miguel Miguelão, Marie, Maria Fifi e Joana estavam decididos! Iriam apresentar o espetáculo naquela cidade, e já tinham até um plano pra isso! Bruxarias ou orgias? rituais satânicos? espetáculo diabólico? Égua! O que foi já, que amofinou tanto a ilibada plateia de Brasília? Que tipo de azucrinação essa muvuca aprontou, a ponto do mais cético passar a acreditar em lendas rapidola? O Pretinho da Bacabeira e Mulher Cheirosa está nas tuas mãos! Não te faz de leso! Traz charutos cubanos, uma garrafa de cachaça da melhor qualidade e boa leitura!
(Gidalti Jr.)
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O pretinho da bacabeira – Cilene Trindade Rohr
15×21
104 páginas
ISBN: 978-65-5361-106-1
R$ 44,70 R$ 31,29
Cilene Trindade Rohr é uma Matinta Marajoara muito Cheirosa que ama dançar carimbó. É doutora em Literatura pela UFSC, com a tese sobre poesia de expressão brasileira e alemã. É professora efetiva do curso de Letras Alemão da UFPA. Coordena o projeto “Chão de Encantarias” cujo propósito é o de fortalecer a cultura popular do Marajó através do incentivo às artes e o engajamento social direcionado ao público infanto-juvenil. Escreve poemas e contos nunca publicados. Já morou em muitos lugares do mundo, mas é no chão de encantarias do Marajó, onde vive, que estão fincadas suas raízes entrelaçada às histórias das muitas Matintas e Mulheres Cheirosas, marajoaras de força, coragem, liderança e ancestralidade milenar.