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O Reflexo da Alta Cultura em Um Espelho Quebrado

Ao falarmos dos Estados Unidos e o que de fato representam, surpreendemo-nos com uma dicotomia entre extremidades que definem a nação. Vemos de um lado uma sociedade que é berço de gigantes da alta cultura, da alta literatura, como Edgar Allan Poe, Ernest Hemingway e T.S. Eliot, William Faulkner, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, David Foster Wallace e Thomas Pynchon. Grandes pintores, da altura de um Jackson Pollock e músicos da envergadura de George Gershwin e Leonard Bernstein, Duke Ellington e Miles Davis, que com sua genialidade abriram caminhos sem eles intransitáveis para a alma humana. E isso antes de falar no cinema de nomes como Orson Welles, Billy Wilder (americano naturalizado, assim como Hitchcock, Fritz Lang e outros), John Ford, Robert Altman, Paul Thomas Anderson, entre tantos outros.

Neste cenário de apreciação de arte requintada e uma competente indústria de entretenimento que dispensa comentários, também são ressonantes as dissonâncias de um país dividido pelo seu próprio histórico de violência e opressão. O paradoxo se instala: como uma nação que apresenta tais luminares pode, ao mesmo tempo, ser palco de atrocidades sistemáticas?

A Sombra Macabra Sobre os Massacres Históricos

Este mesmo país que germinou artistas capazes de inspirar o mundo inteiro foi também autor de massacres abomináveis. As narrativas de Guerra não poupam lágrimas para os indígenas norte-americanos, cujas terras e vidas foram sistematicamente dizimadas. Passando pela destruição perpetrada sobre os norte-coreanos, vietnamitas, povos dos Bálcãs, iraquianos, afegãos e sírios, os Estados Unidos têm um tal retrospecto violento que não pode ser apagado por qualquer beleza de suas artes.

Os conflitos e as ambições imperialistas tingiram de sangue muitas folhas da história, cada uma reverberando com o eco das vidas perdidas em nome de um poderio que buscou justificar-se na promoção de um “bem” tortuoso e distante, mas sempre impingindo o mal.

Guantánamo e a Guerra Híbrida: Os Meandros do Poder

Em tempos mais recentes, lugares como a prisão de Guantánamo tornaram-se símbolos da hipocrisia e do tratamento desumano promovido em nome da segurança. A utilização de métodos de guerra híbrida, combinando ações militares, estratégias psicológicas e táticas de manipulação econômica e midiática, revela a disposição para controlar e desestabilizar regimes estrangeiros sem o disparo de um único tiro – uma batalha na sombra, destruidora da imagética de um país que se diz livre e justo.

O Comportamento Indefensável de Trump

Não há mal tão grande que não possa aumentar. Donald Trump, sem dúvida, encarna a quintessência da desconexão entre o idealizado “Sonho Americano” e a realidade de sua liderança nefasta. Com um comportamento marcado por exibição de baixa lascívia e desrespeito, o vocabulário de Trump o revela por inteiro, e apresenta-se como o exato contrário do que se espera de um estadista. Suas intimidações, mentiras e polêmicas não apenas mancharam a reputação presidencial, mas também exacerbaram as divisões dentro de um país já fraturado por discórdias sociais e raciais.

A Agressão ao Berço da Democracia Burguesa

O ataque ao Capitólio não é menos que uma trama bem orquestrada para desestabilizar a mais antiga democracia burguesa do mundo. Trump e seus acólitos não apenas colocaram em risco a integridade das instituições americanas, mas também alicerçaram as bases para potenciais futuros embates autoritários em outras esquinas do planeta. A insurgência vista em janeiro de 2021 não somente revelou fraturas existentes, mas também pavimentou o terror da possibilidade de que tais eventos voltem a se repetir sob a égide de uma liderança irresponsável.

Um Perigo Latente Para o Mundo Inteiro

Donald Trump, com sua ambivalente retórica de “great again” e seus atos deturpadores da moral pública, representa um perigo tangível para um mundo já fatigado pelas cicatrizes do passado. Há um temor legítimo de que sua eventual volta ao poder recorde os dias sombrios em que a ultradireita, com suásticas ao vento e punhos erguidos em saluto, dominou o palco mundial. E naqueles tempos, lembramos bem, foi necessário a pólvora e a bala para derribá-los do poder.

Vivemos um misto de reverência e antipatia, revelando as profundezas alarmantes da identidade americana. No coração dessa nação de contrastes, palpita uma questão nunca respondida – a de como podem conviver, sob a bandeira de estrelas e listras, uma alta sutilieza do pensamento humano e os abismos dos atos mais deploráveis já cometidos. 

Duas questões se erguem:

Quais serão os próximos passos de uma América que tem nas mãos a capacidade tanto de desenhar como de rasgar os sonhos de um mundo mais justo e pacífico?

Nos será possível conter um já alarmante ascenso da ultradireita odiosa e xenófoba no mundo, caso Trump volte ao poder?

E uma questão se impõe: 

É preciso que assumamos nossa responsabilidade com nosso tempo, e portanto é preciso que estejamos dispostos e preparados caso a última possibilidade que reste seja o confronto.

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