Caso Roberto Sobrinho e a Operação Pau Oco: assassinatos de reputações às margens do Madeira

Por Daniel Pereira

Diversos veículos de comunicação noticiaram na manhã de hoje que Roberto Sobrinho, ex-prefeito de Porto Velho, foi inocentado em vinte e cinco processos movidos contra ele enquanto era o alcaide de nossa capital.

Conheci Roberto Sobrinho em 1986, em um final de tarde em Cerejeiras, enquanto acompanhava o saudoso Odair Cordeiro na campanha eleitoral daquele ano. Tempos depois, Roberto, que era professor da rede estadual de ensino, desempenhou um papel central na construção do maior sindicato de servidores públicos de Rondônia, o Sintero, o qual ajudei a fundar.

Roberto, além de sindicalista de primeira prateleira, se tornara um político de futuro promissor, um trunfo do Partido dos Trabalhadores nessas terras. Por exemplo, se tivesse sido candidato a governador em 2010, provavelmente teria sido eleito, pois estava no segundo mandato como prefeito, eleito em 2004 e reeleito triunfalmente em 2008, ainda no primeiro turno, com mais de 60% dos votos.

Meses depois, ele e seus principais colaboradores foram presos, todos vítimas de uma armação que visava abatê-lo ainda em pleno voo.

Uma demonstração dessa injustiça ocorreu nas eleições municipais de 2016. Hildon Chaves, membro do Ministério Público, elegeu-se prefeito fazendo escada nos ombros de Roberto, dizendo em debate na SIC TV (TV RECORD) que ele não deveria estar entre os candidatos, pois era um presidiário, um condenado pela justiça. Foi nesse dia que Chaves cunhou a famosa frase de que “conhecia um bandido em trinta segundos”.

O duplo grau de jurisdição foi espancado pelo ex-membro do parquet, pois em eleição vale tudo, menos perder, uma possível lição de Maquiavel.

O efeito dessa frase foi deletério. Hildon virou prefeito e Roberto, que era um dos favoritos, derreteu como gelo ao meio-dia na Sete de Setembro.

Agora vem a notícia de que ele é inocente. Justiça tardia é só mais uma forma de injustiça. Ser declarado inocente não é nenhuma novidade. A única culpa de Roberto foi a de ser militante de um grupo político que tinha que ser derrotado a pau e pedra, a fogo e a pique.

O ocorrido com ele não foi um fato isolado. Já fazia parte da marmota conhecida como Operação Lava Jato, em que investigadores (PF), acusadores (MPF) e julgadores (juízes) faziam tudo combinado. O réu não tinha a menor chance de inocência. Já era condenado antes de iniciar a “investigação”, turbinada por ampla divulgação de buscas e apreensões, prisões, etc., em todos os tipos de mídias.

Infelizmente, fatos como esse ainda ocorrem, como é o caso da Operação Pau Oco, da Polícia Civil e Ministério Público de Rondônia, na qual fui investigado ainda como governador, sem autorização do STJ, denunciado como chefe de organização criminosa.

Sobre a Operação Pau Oco, o estrago foi grande, com prisões injustas, buscas e apreensões de documentos e equipamentos, alguns dos quais os agentes do estado deram sumiço. Por exemplo, tive três aparelhos telefônicos, um notebook, um iPad e um HD apreendidos, mas que nunca foram periciados.

É óbvio que a perícia foi feita. Acha que perderiam a oportunidade de produzir provas contra o líder de uma organização criminosa? Com certeza periciaram, mas sumiram com os equipamentos ao não encontrarem nada, a não ser provas robustas de inocência.

O caso de Roberto Sobrinho e o da Pau Oco são idênticos. No final, todos serão inocentados pelas sandices dos criminosos travestidos de agentes do estado.

Mas na Operação Pau Oco há uma grande diferença sobre as demais tentativas de assassinatos de reputações ocorridas no país. Ainda pode restar dúvida sobre a inocência dos denunciados na Operação Pau Oco, mas a punição aos delegados e membros do Ministério Público que fizeram a traquinagem já ocorreu.

Os delegados foram afastados do caso (com grande desonra em suas carreiras – mas das quais deveriam ser demitidos) e a promotora de justiça, que esperava o gran finale na carreira, foi obrigada a se aposentar e sair de fininho, empurrada porta afora pela instituição.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados, disse o Mestre maior. Roberto hoje está saciado. Amanhã, os injustamente acusados na Operação Pau Oco também estarão.

Acreditamos na justiça.

Daniel Pereira é advogado e ex-governador (injustiçado na Operação Pau Oco).

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