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Agosto é um mês comprido, alguns dizem do desgosto. Outros, dando um sacode na cidade, gostam de viver neste a gosto.
Cartas fora do baralho, em contraluz, o mês acorda os viventes, ou seriam os sobreviventes?
O tempo não parou, passou antes de eu tomar um chopp.
O rio serpenteia a cidade, em seu leito o pensamento verte, escorrega, foz, fonte, afluentes, nascentes.
Um homem velho parado em uma sala em que pessoas leem revistas, jornais e livros. Com os braços cruzados, parece observar o vazio, lábios remexem sem produzir som, captura o silêncio.
Dessa maneira o mês começa, como um senhor enganando o tempo, recusando a velocidade, burlando os costumes. Parado ele acalma a vida, diminui a pulsação, engana e desnorteia os que não conseguem parar.
Agosto imóvel, na imagem do velho.
Mês do cachorro louco, outros dizem que cadelas entram no cio, cães brigam, disputam a fêmea e territórios. Através das mordidas e arranhaduras, pode acontecer a transmissão do vírus da raiva.
Seria eu um cachorro louco de agosto? Espero que sim. Dispenso as brigas, só na paz e amor.
O homem idoso continua parado. Desta maneira o texto também pausa para respirar, tomar um gole de café, whisky ou poesia.
Agosto também carrega essa pecha, o “mês das guerras históricas”, em 1 de agosto de 1914 iniciou a Primeira Guerra Mundial. Em 2 de agosto de 1934, Adolf Hitler se torna oficialmente o Führer da Alemanha. Alguns anos depois, nos dias 6 e 9 de agosto as cidades Hiroshima e Nagasaki sofreram ataques com bombas atômicas, pelos Norte Americanos.
Há também coisas boas neste mês, além do nascimento deste que vos escreve esta suave e descompassada crônica, agosto tem o dia dos pais, dia nacional dos profissionais da educação, dia do estudante, do canhoto, do folclore… e o dia internacional dos povos indígenas, haja datas importantes. Temos coisas boas para comemorar, 1 de agosto é o dia do poeta de literatura de cordel. Foi em um dia 3 de agosto que se tornou oficial o fim da censura no Brasil.
O mês de agosto foi decretado em honra ao imperador César Augusto, Ave César!
Na astrologia, agosto começa com o sol no signo de leão e termina em virgem.
Em frente ao teclado, como se estivesse numa máquina de escrever, Burroughs 1930, com ouvidos largos para a rua, olhos da janela, o observador, faz o que mais sabe: olhar, xeretar, roubar nuances, capturar fragmentos de vidas alheias, para depois mastigar bem as palavras e fixar por aí em suas crônicas da vida vazia, ou seria cheia?
Ouvidos de prontidão, portas e janelas abertas, lentes grossas, teleobjetivas, angulares e lunetas. Fareja com o coração em chamas, pronto para anotar qualquer descuido, recriar existências.
Assim, agosto começa a envelhecer o cronista.
Ele deixa-se levar.

Fabio Santiago é poeta e prosador. Publicou os livros Intramurus, Versos magros (compre aqui), Mar de sombras e Cantos temporais. Instagram: @fsantiago006

2 respostas

  1. Aaaaaahhh, gosto! Ah, gosto muito! Muitos dias! Muitas datas, mas gostei mais ainda de saber que tem um aniversariante em agosto que também gosto muito! Felicidade e tudo que você também goste pra ti neste mês! Agostei com seu texto! Agostemos com bom gosto vindo de ti! Parabéns, querido!

  2. Querido e admirável cronista,parabéns! que honra e alegria ler você. A fina percepção dos momentos , das peculiaridades e sultilezas das vivências e de sua conctretude , como você as tem! E somos presenteados com essa prosa poética histórica. Que lindeza de registro! Obrigada! Orgulho de você. Um beijo

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