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Ao sabor da primavera, encontro o escritor Marcio Renato dos Santos em um café, no bairro do Centro Cívico. O sol desta manhã de sábado em Curitiba é intenso. Peço um macchiato, ele um expresso duplo.

A conversa flui e o tempo esfarela-se.

– Vamos pedir mais um café?

Pergunto se ele topa tomar uma cerveja.

– Claro, podemos tomar umas, às 9h40 da manhã.

Sorrimos e educadamente pedimos ao garçom.

– Não servimos bebidas alcoólicas neste horário.

Resolvemos ir em busca de um bar ou restaurante que esteja aberto.

Atravessamos e descemos a rua Manoel Eufrásio, o calor está cada vez mais forte, a região pouco movimentada.

Lembramos que a rua Marechal Hermes abriga muito bares, seguimos para lá.

Observados pelo olho do museu Oscar Niemeyer, parecemos duas figuras fora de compasso e contexto, os portões fechados dos bares desenham a nossa derrota.

Por acaso encontramos uma porta aberta, a moça nos olha:

– Vocês já estão atendendo?

– Ainda não, a partir das 11 horas.

Penso ter ouvido isso. O cheiro de comida no bar me faz perguntar.

– Só queremos tomar uma bebida, tem como?

– Não estamos atendendo.

Enquanto caminhávamos ávidos, na fissura por um gole, interrogávamos.

– Como assim, ninguém bebe pela manhã neste bairro da cidade?

– Isso dá um conto, dois sujeitos em busca de um bar aberto que sirva uma bebida gelada, em um sábado pela manhã.

– Posso escrever uma crônica?

– Claro!

A saga prossegue, estamos de volta na testosterone cypionate injection rua Manoel Eufrásio, descemos até ela tornar-se a rua Vieira dos Santos. Antes de chegarmos, lembramos do Décio Pignatari: “Morou neste prédio”.

Caminhamos até a próxima esquina, encontramos um bar com a porta aberta.

A resposta seguiu seu rumo nefasto.

– Não estamos atendendo.

Parecemos dois sujeitos precisando de remédio, o calor aumenta, a caminhada começa a ficar puxada.

Marcio me conta sobre os amigos que encontra na região, por ser morador do bairro.

Enquanto escrevo, recordo poetas e escritores que, mymedic.es como nós, gostavam de uma bebidinha, uns até mais: Vinicius de Mo­raes, Dylan Thomas, Charles Bukowski, Jack Kerouac, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Marguerite Duras, Tennessee Williams, Ruy Castro, Graciliano Ramos, Paulo Leminski, Lima Barreto, Mário Quintana, João Ubaldo Ribeiro, Hilda Hilst, Mário Bortolotto, Xico Sá, Fausto Fawcett, Chico Buarque, Edgar Allan Poe, Hunter S. Thompson, William Faulkner…

Por favor, compreendam que não há apologia nesta crônica, apenas uma sede latente.

Agora estamos na rua José Sabóia Cortês.

Nunca imaginei que fosse tão difícil beber uma cerveja em uma manhã de sábado em Curitiba. O mais estranho é que nesta região existem muitos bares e restaurantes.

– Acontece que nenhum atende tão cedo.

Passamos por um restaurante e bar, nem sinal de vida, apenas portas fechadas.

Avistamos um posto de gasolina na esquina.

– Será que teremos que beber no posto?

– Nem pensar. Me recuso. Vamos encontrar um bar.

Dobramos a esquerda, os passos continuam fortes apesar de um cansaço que começa a chegar, devido ao demasiado calor e ao meu sedentarismo para longas caminhadas.

Estamos agora na rua Mateus Leme, seguimos no sentido contrário ao fluxo dos carros.

– Nada aberto por aqui também.

– Há um restaurante quase na entrada do Bosque João Paulo II, vamos lá?

Respondo para ele, em tom melancólico:

– Já que estamos aqui, vamos. Que pernada!

– Costumo fazer caminhadas – me diz. – Mas em busca de uma cerveja é a primeira vez.

– Ninguém deve beber cedo neste bairro, é pra acabar!

Nosso caminhar é constante, encontramos o restaurante Polonês, parece estar aberto, é frequentado por turistas.

– Quem sabe aqui poderemos tomar umas.

Entramos no estabelecimento como dois sedentos, em busca do combustível.

– Vocês estão atendendo?

A simpática senhora responde:

– Estamos.

– Tem cerveja?

– Temos chopp.

– Veja dois por favor.

– Pilsen?

– Sim!

Finalmente estamos bebendo, brindamos felizes e a conversa retomou seu caminho.

As horas corriam soltas, ambos tínhamos compromissos no horário do almoço, era quase meio-dia, pedimos a terceira rodada.

A saga para beber em uma manhã ensolarada de sábado terminou com um brinde a amizade.

Nunca um chopp desceu tão redondo quanto estes.

– Viva os loucos e os bêbados!

– Viva a amizade e a literatura, que une sujeitos como nós, estranhos para uma manhã de sábado, sedentos por uns goles a mais.

Dá de beber a quem tem sede!

Fabio Santiago é poeta e prosador. Publicou os livros IntramurusVersos magros (compre aqui), Mar de sombras e Cantos temporais. Seu trabalho mais recente, A marca do vampiro, está em processo de edição pela Kotter. Instagram: @fsantiago006

3 respostas

  1. Meu irmão e grande poeta, por acaso você viu a hora que vocês conseguiram brindar este encontro? Porque pela caminhada já devia ser onze horas. Mas eu sou a favor de encontros regados por um chopp que destrava os pensamentos. Obrigado pela viagem que você trouxe neste encontro de escritores

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