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por Daniel Osiecki

 

Em setembro de 2003, em um evento na sede da ONU realizado em memória de 22 pessoas que morreram no atentado à sede da organização em Bagdá, que também celebrou o Dia da Paz Internacional, o então Ministro da Cultura (numa época longínqua em que havia ministério da cultura no Brasil) Gilberto Gil surpreendeu o mundo da melhor forma que um artista progressista poderia fazer: uma reunião de chefes de estado tocando juntos que simbolizou esperança e bons tempos vindouros. Gil cantou Toda menina baiana, com Kofi Annan na percussão, o então secretário-geral das Nações Unidas, morto em 2018.

 

Aquela imagem de harmonia e prosperidade hoje em dia é apenas um sonho distante, quase irreal que parece estar cada vez mais envolta a uma névoa onírica. Nada do que vem do atual desgoverno brasileiro pode surpreender alguém que tenha um mínimo de consciência crítica. Não trata-se mais de partidarismo, de preferir este ou aquele político, pois simplesmente vivemos o maior retrocesso de nossa história. Se pararmos pra pensar por alguns segundos, é assustador como em uma análise breve perceberemos que a atual situação político-econômica brasileira é sem precedentes. Nunca houve semelhante descalabro. Nem os militares de 64 eram entreguistas como o são o presidente e seus asseclas.

 

No último 21 de setembro Bolsonaro discursou na Assembleia Geral da ONU, e como esperado, a presepada não poderia ter sido mais vergonhosa. Seu discurso, repleto de mentiras, dados fictícios e negacionismo, surpreendeu até os mais céticos. Dentre tantos absurdos, o arremedo de presidente afirmou que o auxílio estipulado por seu (des) governo foi de 800 dólares (o que daria pouco menos de R$ 4.300,00). Fato que gerou verdadeira enxurrada de comentários nas redes sociais Brasil afora.

 

Um do pontos altos da viagem da trupe manicomial a NY, porém, foi o episódio tragicômico do presidente e seus postes, que não puderam entrar em um restaurante e foram obrigados a comer na calçada. Isso por não estarem vacinados. Vergonhoso. E para encerrar com chave de ouro mesmo, até depois de Bolsonaro sofrer bullying de Boris Johnson (primeiro-ministro do Reino Unido), o ministro da saúde (pelo menos este senhor atende como Ministro da Saúde) Queiroga, foi positivado com Covid-19. Resumindo: a delegação brasileira vai aos EUA, apresenta um discurso negacionista, mente da forma mais vil, canalha e descarada possível e ainda coloca a vida dos outros em risco. É desanimador, mesmo que não tenha sido surpresa, vermos algo tão horrendo e patético como isso.

 

Mesmo com todo esse horror que parece não ter fim, lá de longe, vindo de um lugar que tenho certeza que ainda existe no coração do Brasil, consigo ouvir a doce voz de Gil cantando 

“Ah ah ah ah/Que Deus deu/Oh uh oh/Que Deus dá/Ah ah ah ah/Que Deus deu/Oh uh oh/Toda menina baiana tem um santo, que Deus dá/Toda menina baiana tem encantos, que Deus dá/Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá/Toda menina baiana tem defeitos também que Deus dá”…

 

 

 

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