Dório Clemente, Bebendo para o Infinito (Fabio Santiago)

Soube, da boca miúda, que Dório Clemente, “pierrô’ para os mais próximos, bebeu com quem morava em seu imaginário, sob um céu de nuvens coloridas e bandeirinhas voadoras, na cama serena da embriaguez.

Caros leitores, Dório é um sujeito que perambula por estas ruas como um vulto, risca o tempo com passos largos, bebe para o infinito.

Dizem pelas sombras que, realmente, Dório Clemente bebeu com três Ms, um X, uma L, um G e uma A, danados pra Catende, com vontade de chegar! Perceba, não eram letras ou sequer códigos secretos, muito menos tamanhos de roupas. Eram feitos de carne e osso, festivos bebedores, para quem escrevo agora, em linhas tortas, etílicas frases para guardar na memória.

Disseram-me que brindavam com Gin, whisky de Marinheiro e cervejas, entre pasteizinhos generosos e pimenta a gosto. Foi assim, desta maneira, que estes velhos ouvidos de cronista, recebeu os relatos deste encontro de afetividades.

Quando escapam as palavras, o silêncio é poético e farto de sentimentos.

Seria a epítome rabiscada no guardanapo, deixado de cortesia ao simpático garçom que ziguezagueava entre as mesas, por algum borracho, metido a escrever para o devir?

Dizem, os da boca miúda, que o melancólico Dório Clemente bebeu com todos, estralados brindes de copos e taças que acordariam sentinelas noturnos, com a serpentina sinuosa e ébria da estação.

Por onde passou, aluado, Dório, brindou a amizade e afastou águas turvas – Vade-retro, bocas miúdas!

Sigo tonto neste convés de barco bêbado, giro de lá para cá e não vomito, fico com a metade do inteiro, faço desse texto uma caipirinha, sacudo, sorrio e entristeço ao som de Antônio Marcos e Vinícius de Moraes, trilha profissional para embalar esta crônica chumbada.

Antes de mais nada, saibam que, a boca miúda, não bebe, mal abre os lábios, não mostra os dentes, apenas sussurra e destila sentimentos avessos. Quer a discórdia e não vai com a cara dos festivos!

A boca miúda não me engana! Por isso, faço de seu veneno, um trago e bebo, com Dório e seus amigos, nesta crônica coada.

Quanto ao nosso personagem, tinha um andar enviesado, aquela tristeza desenhada em euforia, aquelas mãos pálidas de um poema de Drummond, parecia viver nas estrelas. Alguém disse que trazia um sorriso torto, ébrio e feliz.

Para beber é necessário molhar a garganta, salpicar os lábios, estar aberto ao que pode vir a ser uma carraspana daquelas, não foi, todos saíram bem dessa, não ouve apagões, disso deram-me certeza!

Confesso que não acredito nada nesse papinho. Avistaram eles, lua com limão e gelo.

Para frequentar aquela mesa era preciso além das garrafas, copos e taças, sentimentalidades, generosidades e poesia.

Para estar naquele muro, além das garrafas, “palarvas”, e sorrisos, sentimentalidades, generosidades e poesia.

– Dório mora num ventre casulo dilatado!

Palavra de honra, amigos e amigas, desta crônica ébria e cambaleante, sem tirar e nem por, vos digo que esta conversa de casulo e ventre está muita poesia e pouca crônica.

Disseram-me, os da boca miúda, que Dório Clemente, nesta casa será sempre, pupa!

“Pupamos”, brindemos, bebamos e até mais!

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