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Iniciação, liturgia, ritos de passagem norteiam a existência das personagens que a poeta, médica, editora e tradutora Virna Teixeira soube desenhar nessas dez peças que marcam a sua estreia na prosa de ficção. Não é à toa que o batismo do conjunto traz o título homônimo da narrativa com que a escritora abre o livro: A pupila, uma aluna de medicina que atua como assistente de professores em seus anos de formação, vindo a se tornar autora de ficção científica. Um dos atributos da escrita ficcional de Virna Teixeira é a descrição, a habilidade de figurinista. A partir desses traços, os seres que habitam as páginas de A Pupila podem ser tudo, menos normais: são fetichistas, sádicos, masoquistas, dominadores, exploradores, exóticos, aventureiros, excêntricos, enfim. O que nos leva diretamente à eroticidade com um tratamento que o olhar privilegiado de Virna Teixeira soube imprimir. As mulheres (que quando trocam de roupa são perigosíssimas, fatais), nesta coletânea, ocupam lugar de relevo: são inteligentes, sedutoras, sensuais, sensíveis e fortes (mesmo as aparentemente dominadas). Todas as protagonistas são dotadas de um poder, consciente ou inconsciente, que ao termo demonstram possuir. Outro ponto digno de nota nas histórias de Virna Teixeira é o ludismo, e o humor. O lúdico que Cortázar descreveu como “uma atividade profundamente séria. A brincadeira como uma coisa que tem uma importância em si, um sistema próprio de valores e que pode dar uma grande plenitude a quem a pratica”. Entrar nesse mundo facultado é uma experiência que se abre, generosa, a possibilidades. Cada história é convite para um pacto entre a narradora e o leitor, uma jornada na qual não sairá ileso de sustos e surpresas.
ANTÔNIO MARIANO
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Em A Pupila, Virna Teixeira explora o universo de mulheres audaciosas que buscam aprendizados em suas vidas, no inconformismo com as limitações de estruturas convencionais e de seus próprios universos psíquicos. Uma estudante de medicina tenta sobreviver num ambiente paternalista, camuflando–se de submissa. Em Londres, uma imigrante brasileira e insegura quer tornar-se dominatrix. Uma mulher andrógina procura homens femininos. Uma jovem mulher viaja sozinha de mochila pela Europa nos anos noventa. Uma adicta recuperada torna–se proprietária de um centro holístico. Uma mulher judia descobre uma rival antissemita, enquanto uma mulher casada se arrepende de uma traição. Personagens masculinos debatem-se com crises de afirmação e estereótipos patriarcais, enquanto dois contos abordam masculinidades delicadas. Um homem tímido e confuso sobre sua identidade se transveste por uma noite. Um homem gay chega na Alemanha e revê um antigo amor. Virna Teixeira tem vários livros de poesia publicados. Vive em Londres, onde trabalha como psiquiatra.
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Junho de 2022
A pupila / Virna Teixeira.
Curitiba : Kotter Editorial, 2022.
104 páginas
ISBN 978-65-5361-082-8
15X21 cm
R$ 39,70 R$ 27,79
VIRNA TEIXEIRA nasceu em Fortaleza. Graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, fez residência de neurologia em São Paulo, e hoje trabalha com psiquiatria em Londres. Poeta e tradutora, teve vários livros de poesia publicados no Brasil e no exterior, tendo estreado com o livro Visita pela Editora 7 Letras, no ano 2000. Participou de várias antologias e festivais internacionais de poesia. Seu trabalho está traduzido para o espanhol, o inglês, o catalão e o húngaro. Virna é editora da revista eletrônica Theodora e do selo independente Carnaval Press. Teve contos publicados em revistas online como Lavoura, Germina, Gueto Editorial e Torquato. A Pupila é seu livro de estreia na ficção.