Um estudo que não dissocia Clarice escritora de Clarice pintora, situada a partir de Água viva e culminando com Um sopro de vida.
Depois que o tempo passa, e com a leitura da obra que criou parte da cultura de uma época – como é o caso de Clarice Lispector – pode-se escrever com tranquilidade acerca de seus motivos pessoais e impessoais, a individualidade permeada pela universalidade, como se constata no ensaio de Jayro Schmidt, Clarice Lispector ou a flutuação do instante. Para tanto ele conviveu com os livros da escritora brasileira nascida em Chechelnyk, na Ucrânia, que elevou a linguagem ao “lirismo introspectivo” nas palavras de Haroldo de Campos, desta maneira incorporando a “função poética” em sua obra. Clarice desde cedo estava inclinada a ingressar no mundo da palavra, leitora e escritora precoce que surpreendeu a todos com sua absoluta disponibilidade mental, confiante que foi no intuitivo que beirou o pressentimento a ponto de ter escrito “é para lá que eu vou”. Clarice se afastava de si mesma para voltar plena de estranhamento, de alteridade, o que faz da literatura de imaginação a realidade mesma.
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Em Clarice Lispector ou a flutuação do instante diz o autor que ao estudar sua ficção estava ciente que ia conviver com algo claríssimo, mas cheio de mistérios, isso porque a escritora declarou que sua escrita vinha da “elaboração inconsciente, que aflora à superfície como uma espécie de revelação”.
Como se sabe, Clarice se sentia misteriosa, e uma de suas palavras prediletas foi revelação, o que representa a sua ascendência espiritual que entrou na literatura brasileira pela porta da frente com Perto do coração selvagem, a obra de estreia.
Outras palavras não são menos evocativas em Clarice, e talvez por isso ela cada vez mais tem atraído leitores, pois evocar é trazer para dentro, o que a sua ficção levou às últimas consequências como, por exemplo, quando Martim começa a se livrar de seu passado para ser ele mesmo, estendendo a mão no escuro para apanhar a maçã.
Com esta personagem, e com as demais, entende-se Clarice quando sugeriu que não era para ser lida e sim vivida – imagem capaz de ser um estímulo criativo não somente para os jovens.
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PRÉ-VENDA
ISBN: 9786553610545
Total de páginas: 128
Formato: 15X21 cm
R$ 44,70 R$ 31,29
Jayro Schmidt é de Lages, SC, 1947. Reside em Florianópolis. Estudou pintura com o iugoslavo Sílvio Pléticos e teve os primeiros ensinos em litografia com o carioca Ubirajara Ribeiro, aprimorando-se com o também carioca Antônio Grosso.
Durante mais de três décadas desenvolveu atividades artísticas com exposições nas principais capitais brasileiras, incluindo as participações na Exposição Nacional de Arte em Belo Horizonte, 1969; na Bienal Nacional de São Paulo, 1976; na Mostra do Desenho Brasileiro em Curitiba, 1980; na mostra Brésil Sud Gravures em Saint Nazaire, 1986; e na mostra Regards du Brésil em Honfleur, 2004.
A partir de 1980 passou a ensinar gravura, pintura, história da arte e literatura nas Oficinas de Arte no Centro Integrado de Cultura, em Florianópolis, e em 1996 publicou seu livro de estreia, Vincent van Gogh: pintor das cartas.
Desde então surgiram outras publicações, ensaios sobre Paulo Leminski, Cruz e Sousa, Macedonio Fernández, Péricles Prade, Érico Max Müller, Julio Cortázar, Lima Barreto e Marcel Duchamp.
Autorretrato, 2020