A obra de Johann Wolfgang von Goethe e a de Karl Marx, embora em um primeiro olhar se situem em domínios distintos — a sofisticação poética e a análise econômica — entrelaçam-se sob a acurada observação. Este livro se propõe a desvelar como as reflexões de Goethe permearam o pensamento marxista e de que maneira essa influência se revela em contornos particulares da obra marxiana, com especial ênfase em “O Capital”.
Goethe, na magistral obra “Fausto”, orquestra uma narrativa que desvela a insaciável busca por sabedoria e domínio, conduzindo à alienação e ao estranhamento do protagonista com sua própria essência. Similarmente, Marx postula em “O Capital” que tal alienação não é alheia ao operário no espectro capitalista, o qual se torna alheio tanto ao produto de seu labor quanto a sua própria identidade — uma aflição visceralmente ligada à mecânica do mercado e à dinâmica de produção capitalista.
Em “O Capital”, o conceito de fetichismo da mercadoria, exposto por Marx, contempla a mercadoria animada por uma existência autônoma, velando as interações sociais subjacentes à sua produção. Tal pensamento encontra ressonância na alquimia literária de Goethe em “Fausto”, onde objetos e seres são imbuídos de propriedades e potências que transcendem sua natureza material.
A prosaica descrição de Marx sobre o intercâmbio mercantil como um cerimonial “fantasmagórico”, oculta a verdade de relações sociais e exploração laboral. Goethe, por sua vez, emprega elementos do fantástico e do sobrenatural para ressaltar a insidiosa natureza das promessas feitas por Mefistófeles, traçando um paralelo com a encenação mercadológica descrita por Marx.
Ao abordar as “máscaras econômicas” que ocultam as verdadeiras facções envolvidas nas relações capitalistas em “O Capital”, Marx evoca um conceito que dialoga com o teatro social representado em “Fausto”. Tais personificações e alegorias desvelam as dinâmicas ocultas de poder e dominação que operam sob a superfície da sociedade.
Goethe e Marx convergem em sua aguda dissecção da modernidade e do nascente capitalismo, pondo em relevo a erosão de valores humanísticos e o sacrifício ambiental em altar da ambição e da concentração de capital. As temáticas se manifestam na obsessiva sede por poder em “Fausto” e na investigação sobre alienação e exploração laboral em “O Capital”.
Em essência, a interação entre os pensamentos de Goethe e Marx compõe um mosaico intelectual que transpõe a divisão entre literatura e economia política, fornecendo uma ampla visão sobre a condição humana e uma perspectiva crítica sobre a sociedade capitalista. A presença de Goethe nas reflexões de Marx (Borges dizia que os livros conversam pelas orelhas) evidencia a capacidade da literatura de influenciar e formatar o discurso econômico e político, salientando a rica tapeçaria que constitui a crítica social e cultural.
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Chrysantho Sholl Figueiredo é militante do Movimento Popular por Moradia (MPM), atuante em ocupações urbanas de Curitiba e Região Metropolitana. Além disso, é professor de ensino fundamental e superior. Com uma formação diversificada em direito, filosofia e letras, atualmente faz seu pós-doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde se dedica a um projeto de tradução de uma antologia poética da obra esparsa de Goethe. Seu foco principal reside na filosofia de Hegel e dos hegelianos, porém, através desse estudo, desenvolveu um profundo interesse pela literatura alemã, especialmente a monumental obra Fausto, uma tragédia. Desde que teve seu primeiro contato com a segunda parte da tragédia, Figueiredo encontrou-se irremediavelmente envolvido em suas tramas fantasmagóricas e sua psicodelia alegórica, tornando-se um estudioso dedicado desse universo literário e filosófico.