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Munida da mais avançada e profunda teoria filosófica da literatura do século XX — o dialogismo e a polifonia de Mikhail Bakhtin — e de uma metodologia bem pessoal, Ana esquadrinha uma parte essencial da obra de Dostoiévski, transita com facilidade pela controvertidíssima fortuna crítica desse autor no Brasil e consegue amalgamar de forma criativa os diferentes pontos de vista sobre ele, que alimentam essa fortuna crítica. Na parte dedicada a Graciliano Ramos, a autora faz uma viagem crítica pelo importantíssimo romance-crônica Memórias do cárcere, onde destaca tipos e episódios fundamentais que povoam essa obra essencial da literatura e da cultura brasileira e, também, da nossa história, destacando os episódios mais marcantes da ditadura Vargas representados pelo grande romancista alagoano, e ainda tece comentários abalizados sobre o tipo de narrador. Essa mesma viagem crítica da autora passa pelo romance São Bernardo, onde ela dá um destaque especial ao caráter metalinguístico da narrativa de Paulo Honório, personagem central, que discorre sobre a forma de construção do romance e participação de cada personagem, sem deixar de mencionar os aspectos sociológicos do romance. O mesmo critério de análise e a mesma metodologia a autora aplica a outras obras de Graciliano Ramos, como Angústia e o memorialístico e meio autobiográfico Infância, e também aí a mesma metodologia lhe permite uma análise por vezes minuciosa e igualmente segura de partes de cada obra, mas sem fugir à síntese.
Paulo Bezerra
Professor aposentado da UFF
Doutor em Teoria da Literatura pela PUC-Rio
Livre-docente em Língua e Literatura Russa pela USP.
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Em Dostoiévski & Graciliano Ramos: diálogos, o (a) leitor (a) vai encontrar artigos sobre as obras de dois grandes escritores nascidos em pátrias muito distantes – Rússia e Brasil. A postura de ambos sempre foi a de estarem sistematicamente atentos aos processos de formação social, econômica, cultural e política de seus respectivos países, com toda a opressão e as mazelas que se apresentavam diante de seus olhos. Como não poderia deixar de ser, Dostoiévski e Graciliano Ramos problematizaram, em seus romances, as agruras da condição humana com seus percalços e angústias.
Por razões políticas nem sempre explícitas (no caso de Graciliano Ramos, especificamente), estes autores foram privados de liberdade por um determinado período em suas vidas, o que marcou de forma indelével a trajetória de cada um, como seres humanos e como escritores.
Dostoiévski e Graciliano Ramos escreveram em séculos diferentes e em territórios muito longínquos, entretanto, ambos, em suas obras, apresentam um vigoroso senso de humanidade e de justiça – um dos principais traços presentes em seus livros, além de uma vigorosa qualidade estética.
A autora analisa as seguintes obras do escritor russo Fiódor Dostoiévski: Os irmãos Karamázov (1880), Crime e castigo (1860), Bobók (1873) e O duplo (1846); e os livros do autor brasileiro Graciliano Ramos: Memórias do cárcere (1953), São Bernardo (1938), Angústia (1936) e Infância (1945).
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Dostoiévski & Graciliano Ramos: diálogos
Ana Maria Abrahão S. Oliveira
232 páginas
16X23 cm
ISBN 978-65-5361-284-6
R$ 89,70 R$ 62,79
Ao mergulhar em “Dostoiévski & Graciliano Ramos: Diálogos”, o leitor se depara com uma análise profunda das obras de dois ícones literários de mundos distantes: Rússia e Brasil. Essa obra destaca a vigilância constante de Dostoiévski e Graciliano Ramos sobre os processos sociais, econômicos, culturais e políticos de suas nações, marcados por opressão e adversidade. Ambos os autores, em suas narrativas, não só dissecam as complexidades da condição humana, mas também evidenciam uma profunda empatia pela justiça e humanidade.
De maneira significativa, tanto Dostoiévski quanto Graciliano Ramos enfrentaram períodos de encarceramento, que moldaram suas perspectivas e enriqueceram suas obras com uma sensibilidade aguçada para com as injustiças sociais. Esse aspecto da vida dos autores se reflete em suas obras, onde a busca por justiça e a exploração da estética literária se entrelaçam.
Ana, a autora, nos guia por uma análise criteriosa das obras de Dostoiévski, como “Os Irmãos Karamázov” e “Crime e Castigo”, e de Graciliano Ramos, com destaque para “Memórias do Cárcere” e “São Bernardo”. Utilizando-se do dialogismo e da polifonia de Bakhtin, ela oferece uma perspectiva única sobre a fortuna crítica desses autores, bem como uma visão crítica sobre personagens e episódios marcantes, especialmente durante a ditadura Vargas no Brasil.
Com uma abordagem metodológica pessoal, Ana atravessa a complexa crítica sobre Dostoiévski no Brasil, harmonizando diversas visões sobre sua obra. Seu olhar crítico também percorre “São Bernardo”, revelando a metalinguagem na construção narrativa de Graciliano Ramos e os aspectos sociológicos intrínsecos. Essa análise minuciosa, mas sintética, se estende a outras obras significativas de Ramos, oferecendo insights seguros e detalhados.
“Dostoiévski & Graciliano Ramos: Diálogos” destaca a conexão entre humanidade e justiça nas obras dos autores, oferecendo uma análise crítica profunda.
Dostoiévski & Graciliano Ramos: Diálogos
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Ana Maria Abrahão dos Santos Oliveira nasceu em Paraíba do Sul (RJ). É licenciada em Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa – Universidade Severino Sombra (Atual Universidade de Vassouras (RJ)). Mestre em Letras e Doutora em Estudos de Literatura – Universidade Federal Fluminense/CNPq. Atuou como professora de Português e Literatura no Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino da Rede Pública Estadual (RJ). Vários artigos publicados em periódicos acadêmicos e capítulos de livros publicados. É autora dos capítulos “Polifonia, filosofia e misticismo em Crime e castigo, de Dostoiévski” (Bakhtin e o círculo de fronteiras do discurso vol. I, São Carlos, Pedro & João Editores, 2019); “O sonho com coisas claras e justas: uma releitura do poema ‘O engenheiro’, de João Cabral de Melo Neto (Cem anos de João Cabral de Melo Neto: cidadão do mundo e artesão da palavra, Curitiba, Bagai, 2020); “Rios caudalosos sobre a face: o conto ‘Olhos d´água’, de Conceição Evaristo” (Reflexões sobre as escrevivências de Conceição Evaristo, Curitiba, Bagai, 2020) e do conto “Mirandole”, da antologia Um fantasma ronda o campus (Rio de Janeiro, Verlidelas Editora, 2020). Colunista do Blog da Kotter .Autora do livro: Graciliano Ramos: a melancolia e as ironias da memória (Kotter Editorial, 2022).. E-mail: abrahaoana19@gmail.com