A narrativa que Lucas constrói em Cerol nos faz pensar no que significa crescer e perceber a passagem do tempo, enquanto vamos deixando pedaços da gente e de gente pelo caminho. No meio de tantos esqueletos deixados para trás, Cerol insiste em nos lembrar das imagens que permanecem no fundo do corpo, como uma extensão das nossas próprias vidas. Ainda que sejamos territórios flutuantes, capazes de percorrer longas distâncias, existe ainda um fio povoado de vozes, cheiros, sons e lugares que formam e seguem transformando a nossa identidade. Não importa o quanto eu corra corra corra, os anos que passei apanhando de bate-bola e passando por baixo do valão, continuam povoando meus sonhos e caminhando junto com meus pés, que agora são diferentes daqueles pés que pulavam o muro da vizinha para roubar manga. A memória é a espinha dorsal da nossa existência e a infinidade dos possíveis caminhos nos colocam em uma eterna encruzilhada. Com uma narrativa em fluxo, poética e fragmentada, o livro nos coloca diante das nossas próprias escolhas e decisões ao longo da nossa experiência no mundo, ou ainda da percepção de que alguns de nós não tem escolha.
Gaba Cerqueda
Ao silêncio dessa rua retornam todos seus detalhes. O cheiro, os olhos, os sons. Você adorava cantar o hino imitando a versão da Furacão 2000, em que a mixagem repete inúmeras vezes o coro uma vez uma vez uma-uma vez, sempre Flamengo, e ele do nada, entre nós, começava: uma vez, uma vez, uma-uma vez, sempre Flamengo, uma vez uma vez uma vez, sempre Flamengo, uma vez uma-uma vez, sempre. Uma vez, sempre. Olhar para trás e escutar sua voz ecoando. Uma vez. Sempre.
Cerol, de Lucas Guimarães
Formato: 16×23
Páginas: 120
ISBN: 978-65-5361-278-5
R$ 49,70 R$ 34,79
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