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Uma das buscas incansáveis de Donoso, em sua batalha diária na literatura, é a reconexão entre as palavras e as coisas. Trata-se de uma crítica por meio da forma, um reposicionamento da palavra como meio de enfrentamento ao cinismo. Outra busca é o compromisso com a imagem: a construção de uma imagem vista nas sutilezas de um rosto em movimento, como um desses microgestos em que o nariz parece se mover, escapando da impertinência de uma mosca. Isso transmite a mensagem de que a imagem capturada pela lente da câmera é outra coisa, algo que não deve aposentar a imagem literária ou pictórica. As imagens de Churrasco, portanto, surgem como “aparições” vindas de algum lugar desconhecido. 

 Churrasco, portanto, é um romance que não se entrega ao fetiche da inovação, nem cede aos acessórios que emergem como “pressão” dos tempos. Seu movimento estético não acompanha o gesto da neblina que se ergue do manancial do “agora”. Pelo contrário, o que ele faz é mergulhar ainda mais fundo na densidade pesada e fria das águas, até enredar-se em raízes e afundar-se até o peito na lama ciumenta e possessiva do solo. Sua novidade, portanto, reside na luta para profanar o óbvio, de “procurar chifre em cabeça de cavalo”.  

 Aqui talvez seja o ponto onde a literatura toca a insistência. A novidade de insistir em um mundo disperso é o que vemos se desenrolar, quase em câmera lenta, nas páginas de Churrasco. As ilustrações, cuja liberdade de criação me foi concedida, são, por outro lado, uma versão acelerada, uma reação estética ao ritmo microscópico da narrativa. Por quê? Porque eu não ficaria à vontade se soubesse que o que fiz tivesse uma mínima intimidade com a ideia de “fixação das coisas”. 

 Fernando Lionel Quiroga. Prof. Dr. Universidade Estadual de Goiás / PPG-IELT 

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Churrasco

autor: Tiago Donoso.

Curitiba : Kotter Editorial, 2024.

16X23 cm
288 p.
ISBN 978-65-5361-380-5

 

R$ 104,70 R$ 73,29

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Um mergulho nas angústias e conflitos da vida brasileira

Churrasco, obra de Tiago Donoso, traz ao leitor uma narrativa visceral que explora o cotidiano dos personagens em uma ambientação que mistura poesia e crueza. Cada capítulo revela camadas profundas da realidade brasileira, com diálogos e descrições ricas que refletem a complexidade humana. Através de personagens como Carlinhos e Dona Ana, o autor nos convida a mergulhar em uma história densa, onde o ordinário ganha ares quase míticos.

Um retrato fiel e brutal da realidade

A linguagem de Donoso é deliberadamente intensa, transformando o cotidiano em um cenário de questionamentos existenciais. A simplicidade de uma casa em ruínas, os pensamentos de Carlinhos e a presença de personagens secundários são expressos de forma a resgatar a crueza da vida em cada linha. Se em alguns momentos os personagens parecem buscar alívio em pequenos prazeres, em outros a dureza das situações os arrasta para a introspecção.

Poética do real e o peso da memória

Donoso não oferece respostas fáceis e, ao invés disso, utiliza o contexto social e psicológico para construir uma narrativa que nos faz refletir sobre temas como a memória, a persistência e o sacrifício pessoal. Cada cena é construída como um mosaico de lembranças, em que o passado e o presente dos personagens se entrelaçam em uma teia de conflitos internos.

Churrasco é, portanto, uma leitura para quem aprecia a profundidade psicológica e está disposto a confrontar as diferentes realidades que compõem a vida dos personagens. A obra dialoga com a tradição da ficção brasileira ao mesmo tempo em que traz uma voz única, marcada pela introspecção e pela crítica social.


Tiago Donoso nasceu em São Paulo em 1981. Cursou Letras na Universidade Estadual de Londrina, onde estudou a crônica brasileira e Nelson Rodrigues. Concluiu o Mestrado em Teoria e História Literária pela Unicamp, tendo como objeto de pesquisa a primeira obra de Franz Kafka. É vencedor de alguns concursos literários, entre eles o Concurso da TV 247 “Contos da Quarentena” – jornal do qual foi articulista por dois anos. Tem publicado pela Kotter o livro de contos “Terras nacionais e terras estrangeiras” e o romance “Vladimir dança para as máquinas”. Vive atualmente em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.