DISPONÍVEL
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Conjura é o nono livro de poesia de Luis Maffei. O título sugere vários dos sentidos que os poemas exploram. Antes de tudo, a insubmissão frente a um estado de coisas coletivo, político, conjuração contra certo Brasil – país do “contrário da existência” (título da primeira seção), pedaço de um mundo, por sua vez, tampouco dado à respiração, onde um vírus metaforiza a torpeza. Já a segunda parte invoca a paixão, força suprema quando religiosa e quando profana, que permite à experiência humana o exorcismo de misérias e cotidianos infames – mesmo que seja para encontrar a morte, o trágico, ou para encarar a face bela e terrível do sagrado. A mesma paixão é conjurada no “sagrado íntimo” que enforma o vivo e puro êxtase da terceira seção, toda composta por poemas de amor, todos de amada única, vida plena que será interrompida pelo fim mas que a poesia consegue tocar – como música de amatório corpo.
O conjunto lembra um tríptico, com uma dobradiça entre o segundo e o terceiro painel e outra, em ponto menos óbvio, no começo. Conjura é um livro urgente, que grita de revolta e gozo, atravessa pandemia, opressão, iniciação e perdas e marca o ponto mais instigante da trajetória de seu autor.
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BREATHE
Poesia: é qualquer coisa que pode significar uma mudança na respiração
I can’t breathe
Poesia: é qualquer coisa que pode significar respiração
I can breathe branco no Brasil
I can’t breathe vivo no Brasil
I just breathe cabelos árvore cinza
Poesia: pode significar mudança
I can breathe
I can’t breathe branco no Brasil poesia
Poesia: qualquer coisa que pode
I can’t
Poesia: é coisa significar
I can’t coisa
I can’t mudança
Poesia: é coisa que pode mudança
I can respiração
I can’t breathe
Poesia: qualquer coisa que pode significar uma mudança na morte
Poesia: pode morte
Poesia: can’t breathe no Brasil
I can’t Brasil e seus cabelos de cinza
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Conjura | Luis Maffei
Curitiba: Kotter Editorial, 2023.
62 pág.
15X21 cm
ISBN 978-65-5361-187-0
R$ 44,70 R$ 31,29
Luis Maffei (1974) estreou em poesia em 2006. Desde então, publicou, entre outros, Telefunken (Oficina Raquel, 2008/ edição portuguesa Deriva, 2009), Signos de Camões (edição portuguesa Companhia das Ilhas, 2012/ OR, 2013), 40 (OR/ edição portuguesa Guilhotina, 2015), Vista de Olímpia (7Letras, 2016) e Via (edição portuguesa Coisas de Ler, 2019). Pelo conjunto da obra, recebeu o prêmio Icatu de Artes-Literatura, 2013. É ensaísta, com várias obras publicadas, professor de Literatura Portuguesa da UFF e bolsista em Produtividade em Pesquisa do CNPq.