Em DESENCANTO EM TREVAS, livro de estreia de Victor Gabryel de Moura, os poemas, essencialmente líricos, parecem revisitar o tédio, a incerteza, a melancolia e o escapismo de natureza romântica e simbolista, mas com a dissonância ontológica e a permanente questão do sentido do ser em conflito com a sociedade tecnológica e a mercantilização do homem, motivos que lembram a lírica baudelairiana. A evasão, o sentimento de inadequação social, de desejo irrealizável, herança de um Romantismo em ruínas, projeta um eu lírico desencantado que se lança nas trevas e nestas latejam as forças inconscientes de uma alma sem destino (“ah, a vida perdera o sentido”). Ao contrário da paixão e do sonho românticos, o eu lírico parece imerso em um purgatório de frustações e contradições. Do Simbolismo, herda o mal-estar profundo, mas resultado de uma sociedade pós-moderna degradada e desumana. Apaixonado pela tristeza, o sujeito poético se apresenta isolado em uma atmosfera penumbrosa, na qual pouco se vê as faces da vida. O resultado é um pessimismo que invade os poemas e transporta o leitor para um universo de imagens de um pesadelo, de uma sensação de vazio e de ausência de vida e de significado (“foi naquele dia que mergulhamos em ânsia/alheios às mudanças a nós submetidas, /trancafiados em nossos dias vazios”). Em alguns poemas, a metrópole/necrópole ora se apresenta como terra de ninguém, cena de um holocausto, sem esperança de reconstrução (“as pessoas sempre foram entulhos, empilhadas/pedra sobre pedra, ideia sob ideia/números, somente números”), ora em suas ruínas desponta da multidão uma “menina cor-de-vida”. Esperança? Talvez não. DESENCANTO EM TREVAS se encerra sob a égide da incerteza e da incompletude da alma.
Profa. Dra. Helba Carvalho
Outono 2021
106 páginas
ISBN: 978-65-89624-51-6
R$ 44,70 R$ 31,29
O DESENCANTO EM TREVAS é composto por poemas que versam sobre as insuficiências que rodeiam a psique humana sob uma ótica liricamente pessimista, destrinchando as nuances do tédio, da escuridão e da melancolia. Arraigado a uma estética existencialista e desesperançada, o poeta propõe um mergulho de cabeça nas incertezas da existência humana. Crendo que, em tempos incertos, nos resta uma valsa descompassada com o vazio que nos preenche, no intuito de tentar decifrar o que em si é indecifrável.
VICTOR MOURA
Nasceu em Goiás, por lá viveu seu primeiro ano de vida, até ser arrastado para a Zona Leste da finada Terra da Garoa, que o fez poeta. Formou-se professor de língua portuguesa pela UNICSUL e escritor por conta da obsessão pelas palavras não ditas. Fascinado desde a infância por histórias que afrouxassem as margens da realidade, encontrou na literatura a possibilidade de extravasar os limites de sua própria existência.