Gosto muito de seu trabalho com várias vozes,
vários ditos, várias maneiras de dizer. Você faz isso
muito bem, e a gente quase sempre leva um susto.
José Castello
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Ave nossa! Rendi-me ao seu duelo. Gostei dos
textos e dos sons. E da graça, ironia. Enfim, assado.
Você é bom, cabra! Parabéns, amém.
Marcelino Freire
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E aí, Dito?
A vida me ensinou que ter amigos para valer e livros de valor é estar perto das portas do Paraíso.
Aprendi que quanto mais se lê, mais se tem vontade de ler. Mas os livros são imperfeitos e buscamos em livros, ainda não lidos, a concretização do desejo do livro perfeito. Daí que vamos de capa a capa, de página a página, rumo à perfeição idealizada, uma espécie de farol conduzindo a um porto seguro.
Reconheço neste último parágrafo um ranço salvacionista, porque, cá para nós, é muito bom que os livros sejam imperfeitos. Assim, ao abrir um volume, nos reconhecemos também imperfeitos, por isso a leitura e a vida fluem mais levemente.
Desde quando você, Luiz Lucena, me apresentou em sua voz tão expressiva “Sete de setembro”, me aproximei identitariamente do Pequeno Polegar. Naquele caminhão, naquele
desfile, eu também estava. Não importa se usava vestido verde-e-amarelo, uniforme escolar ou bata branca: eu era o Pequeno Polegar sonhando com as estrelas e dando de cara no chão.
Os personagens de seu livro ecoam a impossibilidade humana ante os muitos obstáculos que o viver essencial não esconde e não economiza, como o personagem de “Carambola”: “conta a rebarba da migalha da doçura, só pra gente poder dizer que tem um porquê nesse mundo”. A busca do sentido ontológico está presente nos textos – alguns, verdadeiros poemas – que, como rebarbas de uma carambola, ajudam os leitores a compreender as faces da vida e as pessoas que os rodeiam.
Estilo contido, sintaxe oralizada e figuras humanas na procura de diálogo, dos porquês, dos afetos e das perdas nos atingem, envolvem e conquistam. São antecipações de livros que gostaríamos de ler, pessoas que nos visitam em sua humanidade – simples, despida, densa.
Há, no livro, um percurso de vida completo, desde o alvorecer de “No princípio era o verbo”, passando pelo viver sempre perigoso e culminando em “O resto é silêncio”. Mais do que intertextualidade, nós, leitores, somos apresentados a gotas de vida, frases densas em sua simplicidade, experimentos de linguagem, ecos de Dalton, de romances de formação, de narrativas contemporâneas rápidas como o jagunço de “Picando fumo”: “me caio já engatando o gatilho”.
Sei lá, Luiz Lucena, concluo que minha imperfeita vivência, longa no tempo e fértil na leitura, encontrou em seu livro mais do que identificação – encontrou frases definitivas, personagens afins ao mundo dos leitores, pensamentos novos, uma vontade de ler mais porque a busca do leitor é como a de “O homem nu”: “essência que se vive até o fim e que só se sente”.
Marta Morais da Costa
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Dito – Luiz Lucena
14×21
72 páginas
ISBN: 978-65-5361-201-3
R$ 44,70 R$ 31,29
Luiz Lucena é escritor, ator, diretor teatral e editor. Formado em Maîtrise em Artes Cênicas na Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris, participou da criação de mais de 30 peças e filmes e produziu inúmeros materiais didáticos. Dito é uma de suas obras literárias.