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Finnegans Wake: finnegans finnicia
Capítulos 1/7 Livro I
James Joyce
tradução de Vinicius Alves
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O último romance de Joyce, publicado em 1939, é uma épica natural que contém todas as épicas. (No Ulisses, de 1922, a épica homérica encerra a épica bíblica, representada pelo judeu errante, Bloom, que é, também, o herói grego.) O termo épica natural, em Finnegans Wake, remete, segundo minha leitura, ao “infrarracional”, que daria acesso ao inapreensível, ao pergaminho perdido, tema central deste romance que Vinícius Alves vem traduzindo e publicando no seu heróico e hilário idioma brasileiro, língua santa, sábia, ignorante, criminosa, bêbada, inumana às vezes. Usando e abusando do infrarracional, o narrador-tradutor-reescritor busca e — parece-me — encontra as runas da Terra, a qual é um grande pergaminho, uma escrita cósmica: “Mas o mundo, imundo, é, está e estará escrevendo suas próprias wrunas sempre”. Nesse “allalphaleito” em que toda a literatura pisa e onde o oral insemina o verbal com ritmos rituais, a saliva irlandesa é a saliva brasileira (“esguimijava enquanto falava”), saliva da loquacidade lunática que testemunha, acusa, explica… “o paissemente”, cujo despertar começa na Idade da Pedra e se prolonga até os dias atuais. Quem é o pai? É aquele que “tem olhos ávidos em sua língua lambente”, o próprio narrador-herói da épica das épicas, ser humano demasiado inumano que tudo ouve, acolhe e fala. Do narrador-tradutor-reescritor Vinícius Alves posso afirmar que também “eleouvê”. Por isso, é gratificante ler os sete primeiros capítulos da grande proeza de Joyce reunidos neste “cavernomem”.
Sérgio Medeiros
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288 páginas
16X23 cm
ISBN 978-65-5361-357-7
R$ 104,70 R$ 73,29
James Joyce, renomado autor irlandês, apresenta em Finnegans Wake um dos textos mais complexos e desafiadores da literatura mundial. A obra, repleta de jogos de palavras, referências culturais e linguísticas, ganha nova vida na tradução de Vinícius Alves, lançada pela Kotter Editorial em 2024. Traduzir essa obra monumental foi um verdadeiro feito, especialmente pela sua natureza experimental. A frase-chave de foco aqui não poderia ser outra: “tradução ousada de Finnegans Wake”. Logo nas primeiras páginas, o leitor se depara com o jogo entre o inteligível e o abstrato, característica central dessa jornada literária.
A tradução de Finnegans Wake sempre foi vista como uma tarefa praticamente impossível, e, se alguém conseguiu atravessar essa montanha, foi Vinícius Alves. Ele não apenas traduziu as palavras, mas recriou a alma de Joyce para o português. O jogo entre sonoridade e significado, presente de forma intensa no original, encontra paralelo na versão brasileira, transformando a leitura em uma experiência igualmente surreal e profunda.
O livro está dividido em sete capítulos, com títulos que, por si só, já apresentam um desafio ao leitor, como “rioir”, “Agora” e “Suspeid Cee”. Cada capítulo de Finnegans Wake segue o fluxo do pensamento, com frases que se conectam como peças de um quebra-cabeça sem fim. A estrutura cíclica da obra — que começa e termina da mesma forma — sublinha a ideia de eternidade e reincidência, temas que permeiam toda a narrativa.
Ler Finnegans Wake não é apenas ler uma história; é embarcar em uma aventura linguística. A obra exige paciência e reflexão, e pode parecer enigmática, até mesmo ininteligível, para muitos. No entanto, para aqueles que se dispõem a explorar seus labirintos, há tesouros escondidos em cada parágrafo. A tradução de Vinícius Alves facilita essa navegação para o leitor brasileiro, mantendo a essência do texto original, mas oferecendo uma experiência acessível em nossa língua.
A versão traduzida de Finnegans Wake por Vinícius Alves é um marco importante na história das traduções literárias no Brasil. Para aqueles dispostos a enfrentar o desafio, essa obra oferece uma experiência única, rica em jogos de palavras e simbolismos. Sem dúvida, um livro que continuará a intrigar e fascinar leitores por muitas gerações.
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Sobre o autor:
James Augustina Aloysius Joyce nasceu em Dublin, na Irlanda, no dia 02 de fevereiro de 1882. Filho de família católica, recebeu uma rígida formação com padres jesuítas, contra a qual mais tarde se rebelou.
Com vinte anos exilou-se em Trieste, na Itália, com Nora Barnacle, mais tarde a Sra. Joyce, com quem teve dois filhos, Lucia e Giogio, e um neto, Stephen, filho deste último. Teve vida atribulada e sérios problemas de visão.
Entre seus livros mais famosos constam Ulisses (1922) e Finnegan Wake, (1939), que poderíamos considerar o livro do dia e o livro da noite, respectivamente.
Joyce faleceu em Zurique, na Suíça, no dia 13 de janeiro de 1941.
Sobre o tradutor:
Vinícius Alves nasceu em Floripa em junho de 1961. É editor, escritor e tradutor. Publicou vários livros de poemas e traduções, entre eles, olho & fôlego e isso, poemas, pela Bernúncia Editora; Pomas Penicada (Pomes Penyeach) Urutau, SP, 2018 e Anna Livia Plurabelle, cap. 8 do Finnegans Wake, Kotter Editorial, Curitiba, 2022. Trabalha atualmente na versão completa de Finnegans Wake, de Joyce e foi agraciado em dezembro de 2023 com o Prêmio Jabuti pela participação no Coletivo Finnegans, (Finnegans Rivolta), tradução completa do FW, sob organização de Dirce Waltrick do Amarante.