O clima do novo livro de poesia de Rogerio Skylab é de despedida e celebração. Nota-se, ao longo dos mais de 70 poemas, trocas abruptas de tom: do cômico, por mais que o músico e poeta carioca afirme não ser dado ao humor, à constatação mais seca de que a vida acabou para ele – em “The dead”, por exemplo, no qual se lê: “Lutei, desisti, abandonei, duvidei, esqueci, me encontrei:/ não sou ninguém/ e não tenho escolha”.
Esse tipo de constatação algo fatalista divide espaço com versos como o de “Uma bofinho”, que trata de um assunto com os qual os seguidores do autor estão acostumados: “Eu quero uma bofinho/ cuja dubiedade provoque pânico/ e vista de longe pareça homem.// Uma bofinho que me traia/ e me roube de vez em quando.// Pra quem lave, passe e cozinhe./ E, além disso, me coma”.
Parece haver, mais do que em qualquer outro trabalho de Skylab, a presença recorrente de pares de opostos. É difícil não pensar no conceito de Camp, elaborado pela norte-americana Susan Sontag (1933-2004), que trata da dubiedade como uma forma estética de encarar o mundo. No novo livro de Skylab, nota-se com clareza essas reviravoltas no conteúdo e há, também, uma maior flexibilidade na forma. É o contrário do que foi praticado em Debaixo das Rodas de um Automóvel, também lançado pela Kotter, no qual havia predominância do antissoneto – o que, por si só, já é uma forma de subversão.
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Futebol de cego, de Rogerio Skylab
Aprox. 88 páginas
Formato: 16×23
ISBN: 978-65-5361-219-8
R$ 49,70 R$ 34,79
Rogerio Skylab, conhecido músico e poeta carioca, retorna com um livro de poesia – Futebol de cego – que oscila entre despedida e celebração. Esta obra apresenta mais de 70 poemas, evidenciando uma notável variedade tonal. Apesar de Skylab negar sua inclinação ao humor, o cômico permeia suas linhas, contrastando com uma visão mais sombria da existência, como em “The dead”. Aqui, Skylab expressa um sentimento de resignação: “Lutei, desisti, abandonei, duvidei, esqueci, me encontrei: não sou ninguém e não tenho escolha”.
Além disso, Skylab explora temas familiares a seus seguidores com uma abordagem única. Em “Uma bofinho”, ele aborda a dubiedade e o desejo com uma linguagem provocativa: “Eu quero uma bofinho… que me traia e me roube… Pra quem lave, passe e cozinhe. E, além disso, me coma”. Esta mistura de temas cotidianos com uma visão distorcida do mundo é uma característica marcante de seu trabalho.
Skylab dialoga com o conceito de Camp de Susan Sontag, explorando a estética da dubiedade. Esta abordagem está mais evidente neste livro do que em qualquer outro de sua carreira. Em contraste com sua obra anterior, “Debaixo das Rodas de um Automóvel”, publicada pela Kotter, onde predominava o antissoneto, este novo trabalho revela uma maior flexibilidade na forma, indicando um amadurecimento artístico e uma disposição para experimentar.
Em suma, este livro de Rogerio Skylab é um exemplo notável de como a poesia pode ser ao mesmo tempo introspectiva e humorística, convidando os leitores a uma jornada de contradições e reflexões profundas.
Rogerio Skylab é um músico, poeta e escritor carioca. Estudou Direito e Letras e graduou-se em Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É um dos músicos mais prolíficos do Brasil, com mais de 20 discos lançados. Pela Kotter, também lançou os livros A outra volta da outra volta: um estudo sobre Henry James (2022), Lulismo Selvagem (2021) e Debaixo das rodas de um automóvel (2020).