SENDAS
“Pobre não tem escolha!”.
“Balas perdidas são estranhas, sempre querem encontrar alguém”.
Realidades duras como essas são denunciadas nas páginas de Kim: o corpo seco, do autor joseense Pedro Hos. Ao longo da trama, conhecemos Gabriel, um garoto de origens humildes que se depara com uma situação surreal ao conhecer Kim, a criatura que, no folclore, chamam de “corpo seco”. Enquanto Kim conta sua história e revela as origens de sua sede de vingança, nosso protagonista luta para sobreviver, permanecer na escola e driblar as desigualdades sociais. Mesclando realismo e fantasia, passado e presente, a narrativa nos convida a refletir sobre a formação da nossa sociedade e sobre o que podemos fazer para mudar realidades áridas como o racismo, o preconceito de classe e a opressão do Estado.
Mariana Zambon Braga (escritora e tradutora)
Verão 2021
ISBN: 978-65-89624-25-7
176 páginas
R$ 59,70 R$ 41,79
Conheço Pedro Hos de sua militância necessária em favor da transparência, não essa manifestação obtusa e arcaica dos portais, na maioria “fakes”, que povoam a rede mundial de computadores como ferramentas oficiais dos governos prestarem conta de suas ações,
mas a translucidez de caráter, de atitude, de caminhar. Pedro age motivado pela coexistência, só existe porque nós existimos, e nesse existir, ciente que o coração não é um órgão que apenas bombeia sangue, sai por ai, defendendo o que acredita, mas fundamentalmente vivendo de acordo com sua consciência, mimeógrafo metafísico que só repete em folhas brancas nossa verdade.
Assim como o genial Leminski, crítico aos conservadorismos da sociedade, incorpora às suas letras elementos e representações da violência diária nas grandes cidades, talvez por isso, para antagonizar este tempo ‘escroto’ onde um vírus consegue ser menos letal que um “pensamento em exercício público”, traz o folclore para dialogar com o presente com cheiro de passado. No encontro de um ser escravizado que em seu descanso eterno toma forma de um corpo seco, com um garoto das quebradas, da estirpe dos soprados e semeados com poesia pelo valoroso Sérgio Vaz, traz a nós a ferida aberta da escravidão e todas assuas sórdidas facetas.
Pedro Hos é um de nós.
Fabrício Correia
PEDRO HOS
Nasceu em dezembro de 1990, São José dos Campos/SP. Graduado em Banco de Dados, nas horas livres alterna entre escrita, leitura, panificação, destilação e o que mais lhe der na telha, pois inquieto. Seu primeiro livro “Pés no Chão” 2019 (edição do autor), uma coletânea de textos escritos desde 2016. Também escreveu e publicou alguns contos em concursos.