NA TREVA DA PROVÍNCIA – Emiliano Perneta
(antologia organizada por Donny Correia)
Estigmatizada pelos ataques iconoclastas do jovem Dalton Trevisan – para quem a poesia de Emiliano Perneta consistia num artifício vazio e sem vida, “poemas de casinha de bonecas”, “rasos como capim” –, adentramos o século XXI lendo, criticando e conhecendo pouquíssimo do que escreveu o “príncipe dos poetas paranaenses”. No ano em que celebramos seu centenário de morte, espanta percebermos quão negligentes podemos ser para com o nosso próprio patrimônio cultural: iniciamos 2021 com a obra completa de Emiliano Perneta fora de catálogo e circulação – cenário que se repete há pelo menos duas décadas, aliás. Já é tempo, enfim, de revisitarmos sua poesia para, despidos dos preconceitos de outrora, reavaliarmos suas qualidades e potências, buscando nela o que há de relevante e atual, no sentido forte da expressão.
Na treva da província, seleção de poemas organizada e apresentada pelo crítico e também poeta Donny Correia, surge para, se não suprir, ao menos diminuir esta lacuna em nosso mercado editorial, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma fortuna crítica mais ampla e rigorosa em relação à obra de Perneta. Organizada em três seções, esta antologia oferece um eficiente e prazeroso panorama da imensa “elasticidade estética” presente na obra de um autor que, à revelia de quaisquer simplificações erguidas sobre atitudes de menosprezo, perpassa pelo menos três escolas literárias distintas: romantismo, parnasianismo e simbolismo. Aqui, a virulência modernista do julgamento de Trevisan é abandonada em favor de um equilibrado reexame da poesia do paranaense, sob a luz da história e dos embates éticos e estéticos de seu tempo.
Sem descuidar daquilo que nela é intempestivo, quer dizer, a arte de seu criador, Donny Correia situa a obra de Emiliano dentro do panorama maior do simbolismo brasileiro que, por sua vez, é lido como um primeiro momento de ruptura interna com o status quo parnasiano, dominante na Belle Époque nacional. Através destas lentes é que Correia observa na poesia de Perneta – em seu flerte com o satanismo, em sua verve às vezes pessimista e decadentista, prenhe de desilusões – a antecipação de muitos dos aspectos trágicos e das contradições dramáticas que marcariam o século XX (mas também o XXI), demonstrando a modernidade incipiente e a força inequívoca que, para além dos verbetes dos dicionários da poesia simbolista brasileira, a obra do autor possui.
Uma leitura necessária, portanto, para que os feitiços (a)críticos que ainda pairam sobre a figura de Emiliano finalmente se quebrem, revelando ao leitor aquilo que existe por detrás do sapo brejeiro e do príncipe provinciano: o poeta pela sua poesia.
Marco Aurélio de Souza
ISBN: 9786589624158
Disponível Segunda Quinzena de Agosto.
Formato: 15X21 cm
Páginas: 176
R$ 59,70 R$ 41,79
Sobre o organizador:
Donny Correia poeta, crítico e ensaísta, graduado em Letras pelo Centro Universitário Ibero-americano, mestre e doutor em Estética e História da Arte e professor de Linguagem, Estética e História da Arte e do Cinema. Por quinze anos, coordenou as atividades culturais dos museus literários Casa das Rosas e Casa Guilherme de Almeida, em São Paulo. Publicou os livros de poesia O eco do espelho (2005), Balletmanco (2009), Corpocárcere (2013) e Zero nas veias (2015), além de organizar, junto com Marcelo Tápia, a antologia de críticas cinematográficas do poeta Guilherme de Almeida, Cinematographos (2016). Seu livro mais recente é Cinefilia crônica, comentários sobre o filme de invenção (2019), composto de ensaios sobre a história do cinema. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA).